A Revolução Venezuelana na Encruzilhada
11 de janeiro de 2008
A revolução venezuelana tem inspirado os trabalhadores, camponeses e jovens de toda a América Latina e do mundo. Na década passada as massas revolucionárias realizaram milagres. Mas a revolução venezuelana não está concluída. E não pode ser concluída sem expropriar a oligarquia e nacionalizar a terra, os bancos e as indústrias básicas que permanecem em mãos privadas. Depois de quase uma década esta tarefa não foi cumprida e isto representa uma ameaça ao futuro da revolução.
A oligarquia venezuelana opõe-se acerbamente à revolução. Por trás dela encontra-se o poder do imperialismo EUA. Cedo ou tarde a revolução venezuelana ver-se-á enfrentada à alternativa: ou uma coisa, ou outra. E como a revolução cubana foi capaz de realizar a expropriação dos latifundiários e do capitalismo, também a revolução venezuelana encontrará a determinação necessária para seguir o mesmo caminho. E este é de fato o único caminho que existe.
A revolução bolivariana encontra-se agora na encruzilhada. Ela alcançou o ponto crítico em que terão de ser adotadas decisões que terão influência determinante quanto ao seu destino. O papel da liderança é decisivo neste momento. Mas aqui encontramos sua maior fragilidade. Pode-se dizer com segurança que, se existisse um genuíno partido marxista na Venezuela com raízes na classe trabalhadora, a revolução socialista já teria sido concluída há muito tempo atrás. Mas tal partido não existe ou, melhor dizendo, existe apenas embrionariamente. E esta é a questão essencial do problema.
A questão da liderança
Depois de todas as discussões sobre socialismo, as tarefas fundamentais da revolução socialista não foram cumpridas. Essencialmente, este é um problema de liderança. Hugo Chávez mostrou ser um audacioso lutador antiimperialista e um democrata consistente. Mas a coragem não é suficiente para se vencer uma guerra. Também é necessário se dispor de estratégia e táticas corretas. E o que é verdadeiro para as guerras entre nações é também verdadeiro para a guerra entre as classes.
Os reformistas e estalinistas tentam argumentar que “as condições não estão maduras” para uma revolução socialista na Venezuela. Pelo contrário, hoje as condições para uma revolução socialista vitoriosa na Venezuela são infinitamente mais favoráveis do que as existentes na Rússia em 1917. Não devemos esquecer que a Rússia czarista era um país semifeudal extremamente atrasado com uma classe trabalhadora muito pequena – não mais do que dez milhões de uma população total de 150 milhões. Não devemos esquecer que em fevereiro de 1917 o Partido Bolchevique tinha apenas oito mil membros em toda a Rússia. Compare-se isto com os cinco milhões de membros do PSUV e a diferença se torna imediatamente evidente.
O balanço de forças de classe na Venezuela é mil vezes melhor do que aquelas que os bolcheviques tinham em 1917. Mas isto não esgota a questão. Na história das guerras quantas vezes um grande exército composto de soldados corajosos foi derrotado por uma força menor de profissionais experientes conduzida por bons oficiais? Muitas vezes! Nas revoluções, como nas guerras, a qualidade da liderança é, no final das contas, decisiva.
Sob a liderança de Lênin e Trotsky, o Partido Bolchevique, em pouco tempo, teve êxito em assegurar o apoio da maioria decisiva dos trabalhadores e soldados e em conduzi-los à conquista do poder. Conseguiram isto com base na clareza das idéias e métodos marxistas que combinavam firmeza ideológica em todas as questões fundamentais com a necessária flexibilidade tática para ganhar as massas para o lado da revolução.
A existência de um partido e de uma liderança com essas características na Venezuela teria facilitado, sem dúvidas, em muito a tarefa da revolução socialista. Mas este partido não existe e as massas não podem esperar até que seja criado. Os sectários e os formalistas são incapazes de entender as massas, como elas desenvolvem a consciência e se movimentam para mudar a sociedade. Para essas pessoas, a questão é muito simples: basta proclamar o partido revolucionário. Dá na mesma se é um partido de dois ou de dois milhões. Mas as massas não reconhecem pequenos grupos revolucionários e sequer os notam.
A revolução não pode ser dirigida por grupos pequenos de revolucionários como uma orquestra é dirigida por seu regente. Ela tem vida e lógica próprias que não correspondem aos esquemas formalistas dos sectários. A natureza abomina o vácuo. Na ausência de uma firme liderança proletária revolucionária armada com as idéias científicas do marxismo, o leme foi tomado pelo Movimento Bolivariano.
O Movimento Bolivariano inclui em suas fileiras milhões de trabalhadores, camponeses e jovens revolucionários que estão se esforçando energicamente por uma mudança fundamental na sociedade – pelo socialismo. Eles identificam suas aspirações na pessoa de Hugo Chávez, o fundador e líder indisputável do Movimento Bolivariano. Naturalmente! As massas sempre são leais às organizações e líderes que as despertaram para a vida política, deram expressão organizada as suas aspirações e as exprimiram.
Força e fraqueza do Bolivarianismo
Estas são, inegavelmente, realizações do movimento bolivariano. Seu lado forte é que se encontra enraizado nas massas – nos milhões de trabalhadores, camponeses e pobres venezuelanos que nunca tiveram voz antes e que agora a têm. Com esses milhões ao seu lado, dando-lhes voz e esperança, o movimento bolivariano desempenhou um papel muito importante. Mas ao lado de seus pontos fortes, ele tem muitos pontos fracos também.
A fragilidade mais importante do Bolivarianismo é que lhe faltam um programa, uma política e uma estratégia claramente planejados para realizar as aspirações das massas. Isto é compreensível, dada a forma como surgiu o movimento. Ele foi produto não de um programa planejado, e sim de poderosas, mas vagas, aspirações por justiça nacional e social. Isto não constituiu problema no inicio e correspondia completamente à psicologia das massas, que estavam apenas começando a despertar para a vida política. Quando as massas compreenderam que existia a possibilidade de lutar por mudanças, avidamente abraçaram esta tarefa. Isto criou um impulso irresistível que continuou por uma década, sacudindo os fundamentos da sociedade e da política na Venezuela e em outros lugares.
No entanto, dialeticamente, o que era originalmente uma fonte de força em certo momento se transformou em seu contrário. Na ausência de um programa científico e de uma ideologia clara e inequívoca, o movimento encontra-se sob a pressão das forças contraditórias de classe, que se reflete em suas fileiras e particularmente na liderança. Isto produz uma situação instável, com constantes vacilações e hesitações. Estas contradições, que no fundo refletem contradições de classe, estão refletidas na evolução política do próprio Chávez.
O papel de Chávez
Nenhum observador sem preconceitos pode negar que na última década Hugo Chávez evoluiu de modo notável. A partir de um programa democrático-revolucionário, ele entrou repetidamente em conflito com os latifundiários, banqueiros e capitalistas venezuelanos, com a hierarquia da Igreja e com o imperialismo EUA. Em todos estes conflitos ele se baseou nas massas de trabalhadores, camponeses e pobres, que representam o verdadeiro motor da revolução bolivariana, sua única base verdadeira de apoio.
Finalmente, ele se mostrou a favor do socialismo, o que é um desenvolvimento muito importante. Embora a natureza deste socialismo seja tão vaga quanto o restante da ideologia bolivariana, os trabalhadores o preenchem com seu próprio conteúdo de classe. Eles se movimentaram para ocupar fábricas e estabelecer o controle operário. Os camponeses se esforçam por ocupar as grandes propriedades e por realizar a revolução agrária por baixo.
A força fundamental de Hugo Chávez não é a clareza de suas idéias, mas o fato de que ele expressou as aspirações profundamente sentidas das massas. Quem quer que tenha estado presente em comícios de massa em Caracas testemunhou a química eletrizante que existe entre o Presidente e as massas. Eles alimentam um ao outro. As massas vêem suas aspirações refletidas nos discursos do Presidente e este vai mais longe à esquerda tendo por base a reação das massas e, por seu turno, dá um novo impulso a estas aspirações.
A burguesia entendeu esta “química revolucionária” e está se esforçando por quebrar a ligação entre Chávez e as massas. Planejaram o assassinato do Presidente, calculavam que o seu desaparecimento fragmentaria e desintegraria o Movimento Bolivariano. Eles têm organizado conspirações nas camadas superiores do Movimento Bolivariano para substituí-lo por um candidato que poderia ser mais “moderado” – quer dizer, mais maleável às pressões da burguesia. O principal objetivo de derrotar o referendo constitucional não era o de “prevenir a ditadura” (nenhuma das propostas da reforma poderia ser interpretada nesse sentido), mas o de evitar uma nova presidência de Chávez. Isto poderia abrir o caminho para o êxito da conspiração que é conhecida como “chavismo sem Chávez”.
Bem se sabe que a burocracia contra-revolucionária tem tomado medidas para isolar Chávez das massas criando um círculo de ferro em torno ao Palácio de Miraflores. A ameaça de assassinato é real e justifica firme segurança. Mas isto também pode ser usado como um pretexto para os funcionários filtrar e censurar, assegurando que apenas determinadas pessoas tenham acesso ao escritório do Presidente, enquanto outros são excluídos por razões políticas. Através desses meios a pressão das massas e da ala esquerda fica reduzida, enquanto a pressão da burguesia e dos reformistas aumenta.
Por que o referendo foi perdido
Repetidamente, as massas, revelando infalível instinto revolucionário, derrotaram as forças da contra-revolução. Este fato engendrou uma perigosa ilusão na liderança e nas próprias massas de que a revolução era alguma marcha triunfante que varreria automaticamente para o lado todos os obstáculos. Em vez de uma ideologia científica e de uma política consistentemente revolucionária, um tipo de fatalismo revolucionário fascinou a mente dos líderes: que tudo estava indo bem no melhor dos mundos bolivarianos. Independentemente dos erros cometidos pela liderança, as massas sempre corresponderiam, os contra-revolucionários seriam derrotados e a revolução triunfaria.
O corolário deste fatalismo revolucionário era a idéia de que a revolução bolivariana dispõe de todo o tempo do mundo, que o socialismo viria eventualmente, mesmo que tivéssemos de esperar cinqüenta ou cem anos. É irônico que Heinz Dieterich e outros apresentem esta idéia (mais corretamente, este preconceito) como “nova e original”. Na verdade, ela vem diretamente da lata de lixo do desacreditado liberalismo do século XIX. A burguesia, no tempo em que ainda era capaz de desempenhar um papel progressista no desenvolvimento das forças produtivas, acreditava na inevitabilidade do progresso – que hoje é melhor do que ontem e que amanhã será melhor que hoje.
Esta noção (agora completamente abandonada pela burguesia e seus filósofos “pós-modernos”) foi mais tarde incorporada pelos líderes reformistas do movimento internacional dos trabalhadores no período de ascensão capitalista antes de 1914. Os reformistas social-democratas argumentaram que a revolução não era mais necessária; que vagarosa, gradual e pacificamente, a Social-democracia poderia mudar a sociedade até que um dia o socialismo chegaria antes mesmo que alguém percebesse. Estas ilusões reformistas foram despedaçadas pela erupção da Primeira Guerra Mundial e pela Revolução Russa que a acompanhou. Mesmo assim, elas são recuperadas da lata de lixo da história, espanadas e apresentadas como a última palavra do “realismo” do socialismo do século 21.
Um outro corolário é que a revolução bolivariana deve se confinar aos limites das leis e constituições burguesas. Isto é irônico, já que a burguesia venezuelana tem revelado completo desrespeito por todas as leis e constituições. Ela está engajada na sabotagem econômica e em conspirações constantes; ela boicotou as eleições e tomou as ruas em protestos violentos; ela conduziu um golpe de estado contra o governo democraticamente eleito e, a não ser pela iniciativa revolucionária das massas nas ruas, não teria hesitado em assassinar o Presidente e instituir uma ditadura depravada na linha da ditadura de Pinochet no Chile.
Tudo isto é bem conhecido e não há necessidade de repetir. Na defesa de seus interesses de classe, a burguesia não tem mostrado nenhum respeito por leis e constituições. Já para as massas, espera-se que obedeçam a todo ponto e vírgula da legislação existente e que obedeçam “as regras do jogo”, como se este fosse um jogo de xadrez ou de futebol. Infelizmente, a luta de classes não é um jogo e não tem nenhuma regra e nenhum árbitro. A única regra é que no fim uma classe deve vencer e a outra deve perder. E, como os romanos costumavam dizer: Vae victis! (Ai dos vencidos!).
No início estes métodos pareciam funcionar. Por quase dez anos as massas apresentaram-se lealmente em cada referendo e eleição e votaram esmagadoramente por Chávez, pela revolução bolivariana, pelo socialismo. É realmente assombroso que as massas tenham permanecido febrilmente excitadas, ativas, durante tanto tempo. É sem precedentes que uma situação revolucionária tenha demorado dez anos sem encontrar uma solução revolucionária ou contra-revolucionária.
As massas votaram por uma mudança fundamental nas condições de sua própria vida. Isto ficou demonstrado com máxima clareza nas eleições presidenciais de dezembro de 2006, quando as massas deram-lhe a maior votação na história da Venezuela. Este foi um mandato pela mudança. Mas, embora algumas medidas progressistas tenham sido tomadas, incluindo nacionalizações, o ritmo de mudança era muito vagaroso para satisfazer as demandas e aspirações das massas.
Teria sido totalmente possível para o Presidente introduzir uma Lei Habilitante na Assembléia Nacional para nacionalizar a terra, os bancos e as indústrias fundamentais sob controle e administração operária. Isto teria quebrado o poder da oligarquia venezuelana. Além do mais, isto teria sido feito de forma totalmente legal pelo parlamento democraticamente eleito, visto que numa democracia se supõe que os representantes eleitos do povo são soberanos. É próprio dos advogados ficarem disputando sobre este ou aquele ponto. O povo espera que o governo eleito por ele aja em seu interesse e que aja com decisão.
Em vez de uma ação decisiva contra a oligarquia, o que teria entusiasmado e mobilizado as massas, apresentaram um novo referendo constitucional. Mas quantos referendos e eleições serão necessários para realizar o que querem as massas? O povo está cansado de tantas eleições, de tantas votações, de tantos discursos vazios sobre socialismo que lhe é apresentado como um lindo quadro que não corresponde ao que o povo vê todos os dias.
O que vêem as massas? Depois de aproximadamente uma década de lutas elas vêem que as mesmas pessoas ricas e poderosas ainda possuem a terra, os bancos, as fábricas, os jornais, a televisão. Elas vêem pessoas corruptas em posições de poder – governadores, prefeitos, funcionários do estado e do movimento bolivariano; sim, e no Miraflores também – que vestem camisetas vermelhas e falam sobre o socialismo do século XXI, mas que são carreiristas e burocratas que nada têm em comum com socialismo ou revolução.
Elas vêem que nenhuma ação é tomada contra funcionários corruptos que estão forrando os seus bolsos e minam a revolução por dentro. Elas vêem que nenhuma ação é tomada contra os capitalistas que estão sabotando a economia pela recusa em investir na produção e pelo aumento dos preços. Elas vêem que nenhuma ação é tomada contra os conspiradores que derrubaram o Presidente em abril de 2002. Elas vêem latifundiários, que assassinam camponeses ativistas, impunes. Elas vêem os preços subindo nos mercados e vêem os porta-vozes governamentais negando que existam quaisquer problemas. Elas vêem todas estas coisas e se perguntam: foi por isto que votamos?
O papel pernicioso do reformismo
Um pernicioso papel em tudo isto está sendo desempenhado pelos reformistas, estalinistas e burocratas que estão ocupando postos-chave no movimento bolivariano e se esforçam por colocar breques na revolução, por paralisá-la por dentro e por eliminar todos os elementos de verdadeiro socialismo. Estes elementos estão permanentemente pedindo para Chávez não ir mais longe, para ser “mais moderado” e não tocar na propriedade privada da oligarquia.
Desde a primeira vez que Chávez colocou a questão do socialismo na Venezuela, os reformistas e estalinistas têm estado concentrando todas as suas energias em reverter a direção socialista da revolução, alegando que a nacionalização da terra, dos bancos e das indústrias seria um desastre, que as massas não estão “maduras” para o socialismo, que a expropriação da oligarquia alienaria a classe média e assim por diante. O mais consistente advogado e “teórico” desta linha de capitulação é Heinz Dieterich.
Dieterich opôs-se ao referendo constitucional. Pode-se discutir o conteúdo e a oportunidade do referendo. De fato, na nossa visão, não era necessário convocar um referendo. O que era necessário era usar a vitória eleitoral para tomar medidas decisivas contra a oligarquia e a contra-revolução. Mas não era esta a posição de Dieterich e dos reformistas. Totalmente ao contrário: eles se opuseram ao referendo porque se opõem ao movimento em direção à transformação socialista da sociedade. Eles querem deter a revolução e revertê-la para agradar a oposição contra-revolucionária e o imperialismo.
Às vésperas do referendo, Dieterich publicamente se alinhou com o renegado Baduel. Ele exigiu que Chávez se unisse com Baduel; quer dizer, que a revolução poderia se unir com a contra-revolução. Era este, e ainda é, o programa de Dieterich e dos reformistas. Para eles, a derrota no referendo foi como uma dádiva dos céus. A derrota os habilitou a intensificar sua pressão sobre o Presidente: “você vê onde sua obstinação nos levou? Você deveria nos ouvir! Nós somos realistas. Nós entendemos das coisas melhor que você! Você não deve mais se precipitar. Você deve abandonar toda conversa de socialismo e firmar um compromisso com a oposição e a burguesia, ou estaremos perdidos”.
Agora, a estreita derrota no referendo constitucional está sendo apresentada como um impulso em direção ao “centro” – isto é, à direita – e como uma prova de que é necessário aplacar a classe média (isto é, capitular perante a burguesia). Esta é a linha que está sendo assiduamente divulgada por Dieterich e os reformistas. Se Chávez ouvi-los – e há certas indicações de que ele está ouvindo – a revolução será lançada em extremo perigo.
Estes “amigos” da revolução bolivariana trazem-nos à memória os amigos de Jó, que o “confortaram” em sua hora de necessidade chutando-lhe os dentes. Tais “amigos” lembram o velho adágio: “Deus, livrai-nos dos nossos amigos: dos nossos inimigos nós mesmos nos livraremos”.
Um perigoso movimento
Seguindo o conselho daqueles que querem alcançar um acordo com os contra-revolucionários, Chávez concedeu anistia a diversos líderes da oposição conectados com o golpe militar de abril de 2002 e a interrupção da indústria petrolífera que causou prejuízos de 10 bilhões de dólares à economia e quase tiveram êxito em destruir a revolução.
Lembremos que o “decreto Carmona” do governo do golpe dissolveu instituições públicas democraticamente eleitas, como a Corte Suprema e a Assembléia Nacional. Agora, aqueles que escreveram e assinaram este infame documento serão anistiados. Estarão livres para continuar com suas atividades contra-revolucionárias.
Chávez disse que esperava que o decreto de anistia “seria uma mensagem enviada ao país de que podemos viver juntos a despeito de nossas diferenças”. Esta é evidentemente uma tentativa de estabelecer uma política de “reconciliação nacional”, seguindo as conhecidas receitas de Dieterich. É um movimento muito perigoso. Se o golpe tivesse tido êxito – o que teria acontecido se não fosse o movimento revolucionário das massas – quem pode acreditar que os contra-revolucionários teriam se comportado assim? Eles teriam matado Chávez e muitos de seus seguidores e logo iriam dormir com a consciência tranqüila.
De acordo com a lógica dos reformistas, uma atitude conciliatória produzirá o diálogo e compelirá a oposição a adotar uma atitude mais razoável. Este argumento não tem base nos fatos. Em repetidas ocasiões no passado, Chávez tentou fazer isto. O resultado foi exatamente o oposto daquele previsto pelos reformistas. Isto ficou claro depois do golpe de abril de 2002, quando o Presidente ofereceu negociações à oposição. Qual foi o resultado? Não reconciliação nacional, mas sabotagem da economia. Depois disto também, Chávez ofereceu-se para negociar. O único resultado foi uma nova tentativa de derrubar o governo no referendo revogatório.
Mas pode ser que a oposição tenha aprendido suas lições. Pode ser que agora esteja ela inclinada ao compromisso? Como a oposição contra-revolucionária reagiu ao decreto? Correram para abraçar o Presidente? Não! A reacionária hierarquia da Igreja católica chama-o de “discriminatório” e exige que ele deveria ser estendido para beneficiar oficiais de polícia que são culpados de assassinato assim como outros notórios contra-revolucionários, como o quarentão líder estudantil opositor Nixon Moreno, que é procurado por tentativa de estupro de uma oficial de polícia em Merida. Mónica Fernández, que deu ordens para a prisão ilegal do ex-ministro do interior Ramón Rodríguez Chacín durante o golpe, é beneficiária do decreto. Agora, ela reclama que seja estendida a anistia para incluir “políticos exilados” como Carmona, Estanga e Ortega.
Estes criminosos que não demonstraram nenhum remorso ou boa vontade para retificar suas ações, estarão agora livres para continuar suas atividades contra-revolucionárias. Isto tem provocado justificável indignação nas fileiras chavistas. Manuel Rodríguez disse que o Presidente não deveria ter assinado o decreto. “Onde estavam nossos direitos humanos quando eles [a oposição] paralisaram o país?” Perguntou ele.
A Revolução deveria reduzir a velocidade?
“Auxiliado” por seus conselheiros reformistas, o Presidente tem tirado algumas conclusões incorretas do referendo. Durante o “Alô Presidente” de seis de janeiro de 2008, ele disse:
“Estou compelido a reduzir o ritmo da marcha. Eu vinha impondo nisto uma velocidade que estava além das possibilidades e capacidades coletivas; aceito isto, e um de meus erros foi este. A vanguarda não pode perder contato com as massas. A vanguarda deve estar junto às massas! Permanecerei com vocês e dessa forma tenho de reduzir minha velocidade (...).
“Isto não um espírito de rendição ou de moderação. É realismo. Realismo! Calma, paciência, solidez revolucionária. Ninguém deve sentir-se derrotado ou desmoralizado (...).
“Prefiro reduzir a velocidade, fortalecer as pernas, os braços, a mente, o corpo, as organizações populares e o poder popular. E quando estivermos prontos, mais tarde, logo aceleraremos a marcha”.
Estas palavras soarão como música aos ouvidos de todos aqueles burocratas e reformistas que vestem camisetas vermelhas, mas que são fundamentalmente opostos ao socialismo e estão se esforçando por descarrilar a revolução. Essas pessoas estão sempre clamando por “realismo” e pela necessidade de se mover mais devagar. Elas falam sobre socialismo do século 21, mas na realidade gostariam que o socialismo fosse posposto para o século 22 ou 23, ou melhor ainda, indefinidamente. O Presidente continuou:
“São necessários aperfeiçoamentos em nossa aliança estratégica. Não podemos nos deixar descarrilar por tendências extremistas. Não somos extremistas nem podemos ser. Não! Temos de buscar alianças com a classe média, incluindo a burguesia nacional. Não podemos apoiar teses que falharam no mundo todo, como a da eliminação da propriedade privada. Esta não é a nossa tese”.
Já conhecemos de antes estas declarações – nos artigos e discursos de Heinz Dieterich, o ex-marxista que agora se encontra no campo do reformismo e da burguesia. Lendo estas palavras, podemos formar uma idéia clara de qual tendência tem o controle em Miraflores agora. É uma tendência que tem sido trabalhada muito pacientemente e sistematicamente nos últimos anos, intrigando contra o socialismo e a revolução, esforçando-se por isolar Chávez das massas e da ala revolucionária.
Somos nós extremistas? Não, somos revolucionários socialistas, marxistas. Somente os latifundiários, banqueiros e capitalistas podem ver o socialismo como um “extremismo”. Mas eles são minoria na sociedade. A esmagadora maioria do povo vê o socialismo como algo totalmente normal e não como um extremismo. O Presidente disse em mais de uma ocasião que o capitalismo é escravidão. É “extremismo” desejar a abolição da escravidão? Somente os escravistas poderiam dizer isto.
Somos nós favoráveis à abolição de toda propriedade privada? Não, não estamos a favor de tocar a propriedade privada da esmagadora maioria da população: os trabalhadores, os camponeses, pequenos lojistas e a classe média. Não propomos a coletivização do automóvel do vizinho, de sua casa ou televisão, nem de suas esposas e filhos. Estas são as mentiras ridículas que foram usadas pela oposição contra-revolucionária em sua caluniosa campanha pelo voto no “não”.
O que nós defendemos é a expropriação da propriedade da oligarquia: a nacionalização da terra, dos bancos e das indústrias fundamentais, o que representa expropriar menos de 2% da população: não a classe média, mas os super-ricos especuladores e parasitas que nada fazem para desenvolver a economia venezuelana, mas que estão constantemente sabotando a produção, criando escassez artificial e aumentando os preços. Para Dieterich e outros reformistas, colocamos uma questão muito simples: como é possível realizar o socialismo sem expropriar a propriedade da oligarquia?
O PIB da Venezuela está crescendo a 8,4%. Mas existem problemas sérios. A inflação é oficialmente de 22,5%. O aumento dos preços golpeia os setores mais pobres mais duramente que os afortunados. Existe continuamente escassez de comida, afetando produtos básicos como o leite, feijão e frangos. Isto revela a completa inadequação da agricultura privada na Venezuela. Uma terra potencialmente rica e fértil tem de importar mais de 70% de sua comida – uma situação escandalosa.
A escassez de produtos alimentícios básicos como resultado da sabotagem deliberada dos fazendeiros capitalistas e dos monopólios distribuidores desempenhou um importante papel na derrota do referendo da reforma constitucional. Que ações foram tomadas pelos ministérios mais importantes? Logo após o referendo, anunciaram que o controle de preços do leite estava abolido e há a conversa de que o controle sobre uma série completa de outros produtos também será abolido. Novamente, mais concessões à oligarquia.
Há uma solução muito simples para os problemas da escassez de comida: a expropriação de todas as empresas e indivíduos que participam da sabotagem da cadeia de distribuição de comida. Esta medida, que é perfeitamente democrática, poderia ter sido introduzida há muito tempo, mais particularmente a partir da emissão do decreto sobre estoques escondidos e sabotagem há aproximadamente um ano atrás. Toda a terra expropriada, instalações e equipamentos poderiam ter sido colocados sob o controle democrático de comitês compostos por representantes dos camponeses e trabalhadores para garantir a distribuição de comida às massas. Adicionalmente, comitês de aprovisionamento poderiam ser instalados em todos os bairros dos pobres e da classe trabalhadora para exercer vigilância revolucionária sobre a distribuição de comida e para empreender a luta contra a estocagem criminosa, a sabotagem, a corrupção, a extorsão etc.
Estes fatos mostram que a economia de mercado está enfraquecendo a Venezuela. Os latifundiários e capitalistas não poderão resolver os problemas básicos da economia. O único caminho para dar um fim à sabotagem e assegurar que o enorme potencial econômico da Venezuela seja usado em benefício de seu povo é a nacionalização da propriedade da oligarquia e a fundação de uma economia socialista planificada dirigida democraticamente pela classe trabalhadora.
Os conselhos de Lukashenko
Como é feliz a Venezuela por ter tantos conselheiros! Ela tem conselheiros aos montes, conselheiros às toneladas, em caminhões e em trens de carga. Se cada conselho valesse um Bolívar, cada cidadão da Venezuela seria um milionário. Parece que Lukashenko, o presidente da Bielo-Rússia, também está aconselhando Chávez.
Mas antes de seguir o conselho de alguém, deveríamos primeiro examinar suas credenciais. Afinal, não aceitaríamos conselhos sobre o mal que o álcool pode nos causar de um alcoólatra crônico ou sobre os delicados pontos de uma cirurgia cerebral, de um açougueiro. Lukashenko, somos informados, “testemunhou o colapso da União Soviética”. Sim, não somente a testemunhou, mas foi parte responsável por isto. A URSS foi destruída por dentro por uma casta parasitária de burocratas que absorviam uma grande parte do valor excedente produzido pelos trabalhadores soviéticos.
Esta casta burocrática na URSS minou as conquistas da economia nacionalizada planificada através do roubo, da má administração e da corrupção. Quer dizer, eles agiram de modo semelhante à burocracia contra-revolucionária na Venezuela que está estrangulando a revolução mesmo antes de seu nascimento. Lukashenko era membro desta casta burocrática privilegiada na velha União Soviética.
Naquele tempo eles usavam chamar-se de “comunistas” e encontravam-se na tribuna no Dia do Trabalho fazendo discursos sobre socialismo. Agora se converteram aos prazeres do capitalismo e da economia de mercado. Tornaram-se homens de negócio e fizeram fortunas. Na Venezuela, o mesmo tipo de burocratas veste camisetas vermelhas e também se encontra nas tribunas falando de socialismo. Eles têm muito em comum com socialistas como Lukashenko.
Quantos conselhos! E afortunadamente todos eles dirigidos no mesmo sentido: “Não seja tolo, Chávez! Não seja tão apressado! Esqueça o socialismo! Não ouça os trabalhadores e camponeses: eles são tolos! Ouça os rapazes que têm o dinheiro! Convença-os a serem bons patriotas e a investirem na Venezuela. Logo, tudo estará bem!”.
Aparentemente, Lukashenko disse a Chávez: “Os empresários, esta burguesia nacional, você tem de conquistar o seu sentimento nacional, o seu amor pela Nação e Pátria, até mesmo porque são empresários e têm dinheiro. Eles devem investir no país!”.
Se as conseqüências não fossem tão sérias isto poderia ser até engraçado. Não sabemos que burguesia nacional existe na Bielo-Rússia. Mas sabemos que a burguesia venezuelana não está investindo na Venezuela. Sabemos que há fuga de capitais. Sabemos que há sabotagem econômica. Sabemos que há especulação que está esvaziando as prateleiras da comida necessária e elevando os preços. Sabemos que as fábricas estão sendo fechadas e que os trabalhadores estão sendo lançados à rua. É isto o que sabemos. E também sabemos por que e quem é responsável por isto.
Que propõe o presidente da Bielo-Rússia? Propõe que peçamos aos capitalistas venezuelanos para se comportar, para que cessem sua sabotagem e que sejam patriotas. Isto é como exigir pêras de um carvalho. Os capitalistas não se impressionam com lições sobre patriotismo. Eles sempre agem de acordo com seus interesses de classe. É de seu interesse apoiar a revolução bolivariana? Nós temos visto qual tem sido a sua atitude nos últimos dez anos. Somente um cego não vê que a burguesia é asperamente hostil à revolução e a tudo que ela representa.
Não é possível reconciliar os interesses do proletariado com os da burguesia. Ou se apóia os interesses da classe trabalhadora, que forma a grande maioria da sociedade, ou se apóia os interesses da minoria de ricos parasitas – os banqueiros, latifundiários e capitalistas. Mas é impossível apoiar os dois. Pela tentativa de conciliar interesses de classe irreconciliáveis, os reformista, no final das contas, inevitavelmente apóiam a classe dominante contra a classe trabalhadora.
A questão do estado
Chávez anunciou uma “profunda reestruturação” de seu governo, incluindo a designação de um novo vice-presidente e a mudança em 13 dos 27 ministérios. Houve muitas dessas mudanças nos últimos dez anos. Ministros são trocados com velocidade vertiginosa, mas isto nada resolve. O que se requer não é o constante rearranjo no topo, mas a implantação de uma política socialista.
O Presidente deseja dar um fim à corrupção, que ele corretamente considera como um dos mais perigosos inimigos da revolução. De fato, ela é. Mas é impossível resolver o problema da burocracia por meios burocráticos. O único meio para liquidar a corrupção e a burocracia é através da implantação geral do controle e administração proletário, da limitação dos salários dos funcionários ao nível do salário de um trabalhador especializado e da revogação de qualquer funcionário, ministro, governador ou prefeito que não realizar a vontade do povo.
Dez anos depois do início da revolução, o velho aparato do estado, herdeiro da Quarta República, permanece intacto. Este é o problema! Toda a história prova que é impossível realizar uma revolução sem liquidar o velho aparato do estado, que permanecerá como uma constante fonte de corrupção, burocracia e opressão. Mas os reformistas não querem ouvir falar disto. Eles dizem que as massas são incompetentes para governar. Mas quem são as pessoas melhor equipadas para administrar a sociedade sob o socialismo: os burocratas e carreiristas ou o próprio povo trabalhador?
Em Inveval, que foi ocupada e está sendo administrada pelos trabalhadores há alguns anos, há controle operário e todos, dos faxineiros ao diretor, recebem o mesmo pagamento. Não faz muito tempo que Chávez disse que este era o modelo a seguir, e assim é. Não queremos repetir a experiência da caricatura burocrática totalitária do “socialismo” que colapsou na URSS. O que se requer é o retorno ao programa democrático posto em evidência por Lênin e Trotsky – o programa da democracia proletária.
Como perder eleições
A revolução sofreu um retrocesso no referendo constitucional. Mas de forma alguma representou uma derrota decisiva. Muitos fatores podem intervir para transformar a situação nos próximos meses. Em 2008, haverá eleições em todo o país para governadores e prefeitos. É claro que a oposição contra-revolucionária, encorajada pelo resultado do referendo, mobilizará todas as suas forças para ganhar posições nessas eleições. A questão é: podem os bolivarianos mobilizar as massas para derrotá-la?
Chávez está enfatizando a necessidade de agir corretamente para não se perder terreno para a contra-revolução:
“Estejam preparados, porque no fim do ano teremos eleições”, disse ele. “A contra-revolução não descansará um segundo para tentar recuperar terreno. Imaginem por um segundo se isto acontecer”, advertiu ele. O presidente instou pela consolidação do novo Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV). Ele anunciou que o congresso fundacional do novo partido será realizado em 12 de janeiro, e que o antigo vice-presidente Jorge Rodríguez será agora o líder do Comitê de Promoção Nacional. Jorge Rodríguez é visto como um esquerdista.
“Peço a todos para ter a energia e a vontade para logo consolidarmos o novo partido de que precisamos”, disse ele. O congresso deve demorar um mês e decidirá sobre o programa político, estrutura e estatutos do novo partido.
A fundação do PSUV é um passo muito importante, mas só terá êxito se se posicionar firmemente pelo socialismo. Chávez mencionou os cinco “motores” da revolução, seu plano de conduzir o país em direção ao chamado socialismo do século XXI, e insistiu que seu governo continuaria avançando como planejado, mas lamentou que muitas mudanças não seriam possíveis devido ao fracasso da reforma constitucional. “Não podemos continuar avançando com elas porque elas dependem da reforma constitucional”, disse ele.
Mas por que a revolução deveria permitir à oposição ditar o que se pode ou não fazer devido a uma estreita maioria em um referendo? Por que se deveria permitir ao rabo balançar o cão? Esta é uma forma segura de desapontar as massas, que já estão desapontadas com o baixo ritmo de mudança. Isto conduzirá a uma disposição apática e a favorecer as abstenções nas eleições. É exatamente isto o que quer a oposição.
Chávez apelou por uma aliança das “forças patrióticas” no próximo período eleitoral para governadores e prefeitos convocado para outubro deste ano, que envolveria o PSUV, Pátria para Todos (PPT) e o Partido Comunista da Venezuela. O PSUV é um partido de massas com milhões de membros e apoiadores que querem lutar pelo socialismo. Por que necessita aliar-se com o PPT, que é um partido muito pequeno e com uma política oportunista? Pode-se argumentar que um mais um é igual a dois, mas dois homens em um bote remando em direções opostas é igual à paralisia.
Os marxistas venezuelanos apoiarão o PSUV e lutarão no congresso por um programa e uma política socialista. Opomo-nos a alianças com partidos e organizações que não lutam consistentemente pelo socialismo. Opomo-nos a alianças e blocos com a burguesia. Advertimos que a política defendida pelos reformistas de conciliação com as forças da reação não levará à reconciliação nacional e à paz. Pelo contrário, as políticas de colaboração de classe desmotivarão e desapontarão os ativistas do movimento bolivariano, que formam a tropa de choque da revolução. Elas encorajarão as forças contra-revolucionárias, que, para cada passo à frente, exigirão dez para trás. Este é o caminho certo para perder as eleições.
E como ganhar as eleições
O presidente também disse: “devemos formar alianças para fortalecer o novo bloco histórico, como Gramsci costumava dizer. Há exatamente um ano atrás ganhamos as eleições com 63% dos votos, mais de sete milhões de eleitores. Ali, temos uma forte base”.
Sim, há um ano atrás mais de sete milhões votaram por Chávez e isto é, certamente, uma muito forte base. Mas a questão deve ser colocada: por que quase três milhões desses eleitores não votaram no referendo constitucional? Dieterich diz: porque Chávez foi muito longe, muito longe, e deve, por isso, ir mais devagar. Mas este argumento é falso até a medula.
A oposição não ganhou o referendo constitucional; foram os bolivarianos que o perderam. Depois de esforços sobre-humanos, a oposição apenas incrementou os seus votos em cerca de 200 mil, enquanto que os chavistas reduziram os seus votos em cerca de três milhões. Isto não prova que há uma virada para o “centro”, mas, pelo contrário, que há uma enorme e crescente polarização entre as classes. Isto também mostra que existem elementos de cansaço e desilusão nas massas que formam a base do movimento bolivariano.
A derrota do referendo constitucional foi uma advertência de que as massas estão se tornando cansadas de uma situação em que a conversa sem fim sobre socialismo e revolução não tem levado a mudanças fundamentais em suas condições de vida. As massas têm sido muito pacientes, mas sua paciência está se exaurindo. A noção de que elas sempre seguirão os líderes – esta falsa e perigosa noção do fatalismo revolucionário – é completamente vazia.
Pelo contrário! É o lento ritmo da revolução que está causando desilusões entre crescentes camadas das massas. Para elas, o problema não é que ela tenha ido longe demais, mas que ela vá de forma lenta e insuficiente. Se esta desilusão das massas continuar, levará à apatia e à desesperança. Isto preparará uma contra-ofensiva das forças da reação que pode minar a revolução e preparar uma séria derrota. Chegou a hora de ir das palavras à ação, de tomar medidas decisivas para desarmar a contra-revolução e expropriar a oligarquia.
Socialismo – o único caminho!
É inevitável a derrota? Não, naturalmente não. A revolução pode ser vitoriosa, mas somente sob a condição de que a ala estalinista-reformista de Dieterich seja politicamente exposta e derrotada. O movimento deve ser purgado de burocratas, carreiristas e elementos burgueses e se apoiar firmemente sobre um programa socialista. Sob estas condições, ela pode vencer; doutra forma, não.
Quando Simon Bolívar levantou a primeira bandeira da revolta contra o poder do Império Espanhol, isto parecia para muita gente ser completamente impossível. Sem dúvida, se Heinz Dieterich estivesse vivo naquele tempo, ele teria vertido o seu desprezo pelo Libertador, como faz agora com os marxistas. Já Bolívar, começando com um pequeno grupo de partidários, eventualmente, triunfou, exatamente como Chávez, cuja causa parecia de início sem esperanças, triunfou porque mobilizou as massas para a luta contra a oligarquia. A batalha ainda não foi concluída e a vitória não está garantida. Ela nunca está garantida. Mas uma coisa está clara: o único caminho ao êxito é despertar as massas para a luta revolucionária.
Ou a maior das vitórias ou a mais terrível das derrotas: são estas as alternativas diante da revolução bolivariana. Os que prometem um curso fácil, o curso do compromisso de classe, estão na realidade desempenhando um papel reacionário, criando falsas esperanças e ilusões e desarmando as massas diante das forças contra-revolucionárias, que não têm nenhumas ilusões e estão se preparando para derrubar Chávez tão logo as condições o permitam. O único caminho para prevenir isto é pela liquidação do poder econômico da oligarquia, pela expropriação dos latifundiários, banqueiros e capitalistas e pela introdução de um plano socialista de produção.
Dieterich e os reformistas argumentam que agir assim seria provocar os imperialistas e reacionários. Isto é um absurdo. Os imperialistas e reacionários têm demonstrado por suas ações que não necessitam de provocação alguma para agir. Eles estão agindo constantemente para destruir a revolução. A noção de que eles cessarão os seus atos contra-revolucionários se nós “mostrarmos moderação” e conciliarmos com os reacionários é uma bobagem muito perigosa. Pelo contrário, tal comportamento servirá apenas para incentivá-los e encorajá-los.
Naturalmente que, isolada, a revolução venezuelana não terá êxito, no final das contas. Mas ela não permaneceria isolada por muito tempo. Uma Venezuela revolucionária deve fazer um apelo a todos os trabalhadores e camponeses da América Latina para seguir o seu exemplo. Dadas as condições que existem por todo o continente, esse apelo não cairia em ouvidos surdos. O exemplo de um estado democrático dos trabalhadores na Venezuela teria impacto ainda maior que o da Rússia em 1917.
Dada a enorme força da classe trabalhadora e o impasse do capitalismo em todos os lugares, os regimes burgueses da América Latina cairiam rapidamente, criando as bases para uma Federação Socialista da América Latina e, finalmente, para o socialismo mundial. Na base de um plano comum de produção e da nacionalização dos bancos e monopólios sob controle e administração operária, seria possível unir realmente as forças produtivas de todo o continente, mobilizando, desta forma, colossais forças produtivas. O desemprego e a pobreza se tornariam coisas do passado.
A jornada de trabalho poderia ser reduzida imediatamente a 30 horas semanais sem redução de salário. Demonstrando a superioridade dos métodos socialistas, isto teria conseqüências imensas em todo o mundo. Mas o que é ainda mais importante, como Lênin explicou, isto daria o tempo necessário a toda a classe trabalhadora para administrar a indústria e o estado. Logo um plano socialista de produção, controlado do topo à base pela classe trabalhadora, conduziria a imensos aumentos na produção, a despeito da redução das horas de trabalho. A ciência e a técnica, liberadas das correntes da exploração privada, desenvolver-se-iam de forma sem precedentes.
A democracia não teria mais o seu presente caráter restrito, mas se expressaria na administração democrática da sociedade por toda a população. Seriam colocadas as bases para um enorme florescimento da arte, da ciência e da cultura, inspirando toda a rica herança cultural de todos os povos de todos os continentes. Isto é o que Engels chamava de salto da humanidade do reino da necessidade ao reino da liberdade.
Este é o verdadeiro socialismo do século XXI: o único caminho à frente para a revolução venezuelana.
Londres, 11 de janeiro de 2008.
Revolução Venezuelana e o "esquerdismo"
Introdução
A Revolução é a prova suprema para qualquer tendência revolucionária que se proponha auxiliar as massas oprimidas na transformação da sociedade. É na arena da Revolução que uma corrente política tem de demonstrar o quão acertadamente absorveu as idéias do socialismo e as lições da História no período preparatório anterior.
A revolução venezuelana está pondo à prova todas as tendências que se consideram socialistas, revolucionárias e até mesmo “trotskistas”. Está deixando claro que tendências e correntes servem à revolução e ao desenvolvimento da consciência política dos trabalhadores, na Venezuela e internacionalmente, e quais são aquelas que constituem um obstáculo ou servem inconscientemente à reação e aos seus propósitos contra-revolucionários, com práticas e posições políticas equivocadas.
O papel dos revolucionários
Um partido revolucionário não caluniará as coisas existentes, exigindo da realidade condições objetivas ideais que lhe permitam desenvolver-se com o mínimo esforço. Nunca existiram condições ideais, nem na Venezuela, nem na Revolução Russa, nem em nenhuma circunstância histórica. Um partido revolucionário tomará a realidade tal qual ela é, analisará as suas contradições internas (as forças opostas no conflito e a sua relação mútua), prevendo o desenvolvimento mais provável dos acontecimentos nessa realidade para assegurar as melhores condições de triunfo para a Revolução.
Um partido revolucionário é, acima de tudo, um grupo de acção. E o partido revolucionário sempre tratará de utilizar as ferramentas que provêem da situação concreta para agitar e mobilizar as massas, fazendo avançar o movimento até ao seu objectivo final. Nisto consistia o famoso “realismo revolucionário” de Lenine que muitos evocam, mas poucos compreendem cabalmente.
Justamente, a tarefa de se situar na realidade tal qual ela é e de aproveitar cada oportunidade presente para enraizar-se no movimento de massas, ganhar a sua confiança, crescer e desenvolver-se junto delas, convertendo-se no porta-voz mais resoluto e conseqüente, constitui a própria tarefa da construção do partido revolucionário. Os sectários queixam-se amargamente da realidade tal qual ela é e exigem da História que lhes dê tudo, sem a necessidade de arregaçar as mangas e meter as mãos no barro. Por isso, é habitual que os sectários sempre apareçam como espectadores duma revolução, atribuindo-se a si mesmos o papel de “grande fiscal” que tudo julga sem que, em nada de significativo, intervenha nesse grande drama humano que constitui um processo revolucionário.
Na Venezuela, a primeira tarefa de um revolucionário é situar-se no campo da Revolução. Estar ao lado das massas, na sua barricada, para lá de quem sejam os seus “líderes acidentais”. No caso venezuelano, o movimento real das massas (não o ideal, aquele que ditam certos “manuais”) é o chamado “Movimento Bolivariano”. Da mesma maneira que o movimento revolucionário na Rússia de 1917 girou em torno dos sovietes dos operários, camponeses e soldados de toda a Rússia. Nele conviviam revolucionários e reformistas, marxistas, social-demcoratas e anarquistas... e até alguns elementos burgueses isolados!
Os bolcheviques nunca duvidaram sobre qual seria o campo revolucionário, embora estivessem em minoria no seu seio. Aceitaram o domínio da ala reformista, enquanto explicavam pacientemente aos sectores mais avançados das massas quais eram as verdadeiras tarefas da Revolução. Quando sentiam que a revolução estava em perigo, por vezes como consequência directa das próprias acções dos líderes reformistas soviéticos, sempre permaneceram ao lado das massas, apelando a esses dirigentes para uma Frente Única que derrotasse os inimigos comuns, mostrando-se como os elementos mais lutadores e abnegados. Foi dessa maneira que os bolcheviques, num período relativamente curto, de apenas alguns meses, puderam conquistar uma maioria sólida no movimento revolucionário e nos sovietes. Isto foi o que decidiu o triunfo da revolução russa em Outubro de 1917.
A nossa posição
Os marxistas por todo o mundo, agrupados na Corrente Marxista Internacional, deram desde o princípio um apoio incondicional à revolução venezuelana e reconheceram no chamado “movimento bolivariano”, a expressão genuína das massas oprimidas da Venezuela. Desde o começo da revolução – faz agora 9 anos -, os marxistas foram capazes de prever, como uma das variantes possíveis, a evolução do movimento bolivariano em direcção ao socialismo – é o que tem ocorrido.
Temos defendido a revolução venezuelana em todos os foros e instâncias da luta de classes e do movimento operário internacional. Impulsionamos, unitariamente com outros camaradas das mais diversas sensibilidades, a Campanha “Tirem as Mãos da Venezuela”, que está activa em cerca de 40 países pelos 5 continentes e se converteu, por mérito próprio, na principal campanha de solidariedade com a revolução venezuelana existente no mundo.
Temos difundido no movimento operário internacional as impressionantes conquistas da revolução venezuelana, talvez pequenas e de pouco interesse para os pedantes pequeno-burgueses que se disfarçam de temíveis revolucionários, mas que foram e são gigantescos para os trabalhadores, camponeses e para os pobres das cidades e campos da Venezuela.
Na Venezuela, atualmente, toda a população tem acesso gratuito à saúde; o analfabetismo foi erradicado e abriram-se as portas da universidade aos filhos dos trabalhadores e camponeses; os produtos básicos de consumo são subvencionados pelo Estado; multiplicaram-se os fundos para pensões e outros gastos sociais; o controle dos recursos petrolíferos foi alcançado, garantindo-se que 80% da renda petrolífera permaneça no país e seja usada principalmente para o desenvolvimento das infra-estruturas básicas e para programas de desenvolvimento social.
Porém, atrevemo-nos a dizer que estes passos em frente nas condições de vida das massas empalidecem perante uma conquista muito mais preciosa: o despertar da consciência e da dignidade de milhões de homens e mulheres comuns das classes oprimidas. Milhões de homens e mulheres que descobriram que tinham voz própria, que não esgotam a sua existência entre quatro paredes, seja em casa ou no local de trabalho, mas que participam de assembléias incontáveis e nas manifestações diárias, que militam nos seus bairros e empresas, que descobriram a ignomínia do capitalismo e do imperialismo e que se pode lutar contra isso! Milhões de homens e mulheres que exigem uma participação crescente no controle e decisão sobre o destino de suas vidas. Esta é a fonte de onde emana a força revolucionária das massas venezuelanas, das “massas chavistas”.
Os sectários fora do campo revolucionário
Mas os sectários estão descontentes com o presidente Chávez e com o movimento bolivariano pelo lento avanço da Revolução nas suas tarefas socialistas, pela política confusa e vacilante da sua direcção e pela presença na mesma de elementos reformistas. Porém, os sectários não se conformam em mostrar ruidosa e estridentemente a sua reprovação. Vão mais além e negam-se a ver no movimento bolivariano, no movimento real das massas trabalhadoras, o campo da Revolução. Como não aceitam a sua direção actual, desertam do campo de batalha e se declaram “neutros” entre os dois lados em disputa: o do movimento das massas venezuelanas (o movimento bolivariano) e o da contra-revolução burguesa e imperialista. Para os sectários, ambos os campos são, por igual, inimigos do movimento das massas trabalhadoras venezuelanas, ou seja, do movimento de massas “ideal”, que não tem corpo nem vida real, salvo nas suas cabeças.
Leon Trotsky, que entendia alguma coisa de revoluções, disse a este respeito: “O pensamento idealista, ultimatista, “puramente” normativo, deseja construir o mundo à sua própria imagem e simplesmente afasta-se dos fenômenos que não lhes agradam. Os sectários, ou seja, aqueles que são revolucionários somente na sua imaginação, guiam-se por normas idealistas vazias. Dizem: «estes sindicatos não nos agradam, não faremos parte deles; este Estado operário não é do nosso agrado, não o defenderemos». Constantemente prometem recomeçar a História de novo. Construirão um Estado operário ideal, quando Deus ponha nas suas mãos um partido e um sindicato ideais. Mas até que não chegue esse momento feliz, farão birra à realidade. Uma grande birra, que é a expressão suprema do “revolucionarismo” sectário. (León Trotsky: Nem Estado operário, nem Estado burguês? 25 de Novembro 1937).
É um escândalo e uma vergonha que os grupos sectários percam todo o seu tempo a “deitar abaixo” o governo venezuelano e que não dediquem uma só linha dos seus escritos e discursos a mencionar os avanços que a Revolução trouxe. Quase sempre, até se esquecem de combater a burguesia venezuelana! Para eles, Chavez é o alvo a abater!
Mas onde os sectários se “cobriram de glória” foi com a sua posição sobre a Reforma Constitucional na Venezuela. Entre as várias propostas que enfureceram a oligarquia local, o imperialismo e os sectários, destacavam-se:
a) A promulgação da jornada laboral de 6 horas e semanal de 36;
b) O outorgar de plenos direitos sociais (pensões, subsídio de desemprego, saúde, etc.) aos trabalhadores “informais”;
c) A proibição expressa de privatização da segurança social, do regime de pensões, do sistema rodoviário e a afirmação do controle estatal da exploração, distribuição e comercialização dos hidrocarbonetos e minerais;
d) A proibição dos latifúndios e a sua transferência para o Estado e comunidades camponesas;
e) A afirmação expressa da prioridade da propriedade social e estatal sobre a privada;
f) A introdução de mecanismos de poder popular (conselhos comunais, Assembléias, comissões de trabalhadores, estudantes, etc.), nos quais se incorporavam as massas na tarefa de participação e controle social, cerceando as atribuições do Estado burguês;
g) Legalização das milícias populares como parte integrantes das Forças Armadas.
Uma organização revolucionária séria deveria, em primeiro lugar, saudar os avanços da Revolução, pôr-se à disposição do movimento de massas e intervir no processo para levá-lo adiante. Mas, claro, também deveria explicar pacientemente o programa socialista que consiste na nacionalização das alavancas fundamentais da economia (bancos, monopólios, latifúndios) sob controle democrático dos trabalhadores, ao mesmo tempo que deveria advertir sobre o caráter limitado das medidas tomadas se não houver uma ruptura decisiva com o capitalismo, se não se criarem organismos de poder operário e popular nas fábricas, escolas e bairros. Naturalmente, também deveria combater o reformismo e a burocracia no seio do movimento bolivariano.
É verdade que a Reforma Constitucional impulsionada por Chavez não supunha uma ruptura com o capitalismo, mas sim amenizava parcialmente as suas posições nas estruturas económicas e no aparato estatal. Todavia, para lá das limitações que se pudessem assinalar, era indubitável que a Reforma propunha medidas progressistas que facilitariam a mobilização e organização das massas trabalhadoras para aprofundar a revolução em direcção ao socialismo tal como, a título de exemplo, já ocorrera no anterior Referendo Constitucional ou na vitória presidencial de Chávez no ano passado: seria um sinal, um estímulo para a ação.
Todas e cada uma destas medidas constituíam uma arma formidável nas mãos das massas trabalhadoras e dos revolucionários para mobilizar, organizar e aprofundar o processo, exigindo no dia seguinte, a transformação da “letra morta” da Constituição na realidade viva para avançar na melhoria das condições de vida das massas e da sua auto-organização democrática.
Mas o “No” ganhou e quem ganhou com ele, quem fez a festa? A oligarquia, os sectores mais reacionários da sociedade venezuelana e o imperialismo. Com eles, os sectários que defenderam o “No” também soltaram foguetes! Mas por acaso, o movimento revolucionário avançou um passo que fosse nestes últimos dias? Ou a quem moralizou o resultado do referendo, à oligarquia ou às massas revolucionárias? A quem fortaleceu?
Um revolucionário sério não ficaria (não ficaram!) a chorar pelos cantos pelo carácter limitado e incompleto da Reforma Constitucional, mas colocar-se-ia (colocaram-se) junto das massas para exigir a sua aplicação imediata, auxiliando estas a compreender quem no campo da Revolução efectivamente quer o seu avanço e quem, usando “boinas rojas”, actua como a “quinta coluna”, travando e sabotando a Revolução por dentro.
O facto expressivo de que os elementos reformistas no seio do movimento bolivariano tenham vindo a clamar, “alto e em bom som”, pela necessidade de não “avançar tão depressa”, de “sermos mais prudentes”, pois “o povo não está preparado”, etc., etc. fala por si…
Seria um passo em direção à ditadura?
Um dos argumentos favoritos da burguesia era que a Reforma da Constituição seria um passo prévio para a instalação dum Estado “totalitário” e suponha um corte nas “liberdades democráticas”.
Qualquer trabalhador ou jovem consciente conhece perfeitamente a hipocrisia que se escondia nessas palavras. Para os poderosos, tudo o que puser limites à “liberdade” de explorar, negociar e lucrar é um atentado à “liberdade”! São os mesmos que sempre apoiaram as ditaduras sanguinárias na América Latina ou que defenderam a invasão do Iraque, do Afeganistão ou do Haiti! Estes são aqueless que organizaram um golpe de Estado contra Hugo Chávez em Abril de 2002!
Hugo Chávez ganhou 8 consultas eleitorais de todo o tipo (presidenciais, legislativas, consittuintes, referendárias, etc.). Há um ano atrás foi eleito presidente com mais de 63% dos votos! Quem se der o trabalho de ler a Constituição Bolivariana verificará que é a Constituição que mais garantias proporciona ao povo. Esta reforma ampliava esse quadro.
Todavia, o escandaloso não foi que os inimigos dos trabalhadores e dos povos do mundo vociferassem desesperados contra a “falta de democracia” na Venezuela, mas que nisso fossem acompanhados por algumas correntes da “esquerda revolucionária” que repetiram, palavra por palavra, as calúnias contra Chávez.
Ah, sim! De entre os 69 artigos cuja reforma estava a escrutínio, também existia um que previa a possibilidade de QUALQUER presidente eleito poder recandidatar-se sem limites de mandato em eleições livres e democráticas.
Deixando de parte os exemplos da Rainha Elizabeth II que há 50 anos é o chefe do Estado britânico sem eleição alguma, do presidente americano Franklin Roosevel que foi eleito para quatro mandatos ou um Cavaco Silva que em Portugal foi primeiro-ministro durante 10 anos e só não cumpriu de seguida outros 10 como Presidente da República porque… não foi eleito; deixando até de parte o fato de que, quer se goste, quer não, Chávez não tem, neste momento (e não sabemos como será em 2012) substituto à altura do prestígio e autoridade que alcançou no seio das massas… “chavistas”; deixando tudo isto de parte, cabe ainda perguntar há quanto tempo estes grupos sectários, tão preocupados com a rotatividade de funções e com a “liberdade”, são dirigidos pelos mesmíssimos líderes anos e anos a fio? Quando não há décadas!
Pelo seu sectarismo, todos estes grupos, na Venezuela, colocaram-se ombro com ombro com a contra-revolução e é com esta, não com as massas revolucionárias, que hoje discutem a “revolução” – que para eles se resume a derrubar o governo Chávez! Hoje foi assim na Venezuela, assim será amanhã em Portugal! Não esqueçamos o processo revolucionário do pós-25 de Abril, no qual os grupos da “esquerda radical”, pura e dura até o fim, se encontraram, nos momentos decisivos, com a contra-revolução, nos seus comícios e no seu golpe militar (25 de Novembro)!
O chicote da contra-revolução
Lenine costumava dizer que, por vezes, a Revolução necessita do chicote da contra-revolução! Na Venezuela, a Oposição obteve uma “magra vitória”! Conseguiram apenas mais 100.000 votos do que há um ano quando foram esmagados por Chávez. Verdade: conseguiram arregimentar o voto dos “profissionais liberais”, dos pensionistas nostálgicos, das donas de casa, dos estudantes “meninos de bem”, dos lojistas fanatizados, das beatas da igreja, dos sectores mais atrasados do povo venezuelano. Porém, do ponto de vista da luta social, toda esta gente vale pouco mais do que nada.
A Revolução dispõe de enormes reservas sociais: a grande maioria dos trabalhadores, camponeses e jovens está com o processo revolucionário, ainda que, desta vez, 3 milhões de “chavistas” tenham ficado em casa.
Isto constitui um sério aviso à Revolução. É claro que dentro do campo “chavista”, os reformistas e carreiristas, sabotaram activamente a campanha, aterrorizados como estavam e continuam estando com o aprofundamento da Revolução que inevitavelmente os varrerá com os seus privilégios. Baduel, ex-ministro da Defesa “chavista” que agora se encontra do outro lado da barricada foi apenas a ponta do iceberg visível. Que numa concertação espontânea diante de Miralfores (Residência de Chávez), no dia seguinte ao referendo, a base “chavista” tenha tido como palavra de ordem “limpieza general”… é elucidativo!
Todavia, como revolucionários devemos levar ao movimento a explicação maior para a derrota eleitoral do último domingo: enquanto não se expropriar a oligarquia e colocar os recursos do país, sob gestão democrática dos trabalhadores e do povo através dos seus conselhos e comissões de base unificados em nível nacional, não obstante todas as melhorias, nenhuma transformação significativa, radical e duradoura se conseguirá. O resultado do referendo vem colocar em evidência o fato de que a Revolução ainda não se tornou irreversível!
Enquanto os capitalistas e latifundiários mexerem os fios da economia (de uma economia capitalista!), irão usar os seus poder e posições para sabotar a economia. Por exemplo: à tabelação de preços, respondeu a oligarquia com a desorganização, açambarcamento, especulação e mercado negro que dificultam às massas a obtenção dos gêneros primários de que necessitam – como aconteceu ao governo Allende. Os mesmos capitalistas que se recusam a investir, que retiram capitais do país e encerram empresas.
Ao fim de 9 anos de Revolução, um sector do movimento popular demonstrou cansaço e apatia por mais um processo eleitoral (o país tem conhecido, em média, um por ano). Quer menos palavras e mais ação! Os sectários dirão agora: “foi o que sempre dissemos!”
Não! O que sempre disseram foi que o governo Chávez era um governo burguês, incapazes como são de compreender que esse governo só se formou graças à luta popular, que ele é fruto desta e seu tributário! “Mas o chavismo não rompeu com a burguesia”. Mais uma vez são incapazes de compreender que o “chavismo”, enquanto movimento, é bastante heterogêneo: no topo não duvidamos da existência de muitos carreiristas e reformistas incapazes de “romper” com a burguesia, mas na base do movimento temos as massas populares que efectivamente têm feito a Revolução! E quanto mais os revolucionários reforçarem a ala esquerda do “chavismo”, tanto mais depressa as massas “chavistas” romperão com a burguesia e com os reformistas que falam de “socialismo” e tentam cavar a sepultura da Revolução.
No início da Revolução Russa, o movimento operário e popular agregava-se em torno dos "sovietes" nos quais os bolcheviques estavam em profunda minoria. Mas qual foi a posição de Lénine? Virar as costas ao movimento de massas e aos modos e estruturas como este se expressava?
A citação é um pouco extensa, mas vale a pena... Nas suas Teses de Abril, Lénine escrevia sobre as tarefas que os bolcheviques deveriam empreender:
" 4) Reconhecer que, na maior parte dos Sovietes de deputados operários, nosso partido está em minoria e, por agora, numa ampla minoria, diante do bloco de todos os elementos pequeno-burgueses e oportunistas - submetidos à influência da burguesia, e que levam esta influência ao seio do proletariado. Que compreende desde os Socialistas Populistas e os Socialistas Revolucionários até o Comitê de Organização (Cheidze, Tsereteli, etc) Steklov, etc, etc.
“Explicar às massas que os Sovietes de deputados operários são a única forma possível de governo revolucionário e que, por isso, enquanto este governo se submete a influência da burguesia, nossa missão só pode ser a de explicar os erros de sua tática de uma forma paciente, sistemática, persistente e adaptada especialmente as necessidades práticas das massas.
“Enquanto estivermos em minoria, desenvolveremos um trabalho de crítica e esclarecimento dos erros, propagando ao mesmo tempo, a necessidade que todo o poder do Estado passe aos Sovietes de deputados operários. Fazendo assim com que, a partir de sua experiência, as massa corrijam seus erros."
Na Venezuela, o movimento operário e popular não se congregou em torno de "sóvietes", mas em torno do "bolivarianismo" com os seus círculos, comités, "batallones", conselhos comunais e, mais recentemente, em torno do PSUV... Apesar das revoluções terem "leis universais", também possuem, cada uma delas, características e traços próprios. Todavia, se substituirmos "sovietes" por "bolivarianismo", teremos a "receita" leninista para actuar junto do movimento de massas, pois da mesma forma que os "soviétes" emergiram como fruto da revolução, o mesmo ocorreu com o " movimento bolivariano"...
Todavia, pelos seus erros de análise, pela sua cegueira “ideológica”, estes grupos “esquerdistas” que sempre se recusaram a fazer parte do movimento popular tal qual ele existe, falam agora não para as massas “chavistas” – aquelas que têm feito a Revolução – mas para a extrema-direita, para a reação e para a oligarquia com quem estiveram nas desordens provocadas pelos estudantes “meninos de bem”; com quem estiveram no Referendo e seguramente estarão noutras batalhas contra o “perigo chavista” – porque para os sectários, Chavez é o perigo!
Mas deixemos “os mortos enterrar os seus mortos”! Se este referendo teve um mérito foi o de colocar de sobreaviso as massas revolucionárias. Provavelmente, irá radicalizar a base “chavista”: agora os activistas do movimento ganharam plena consciência da necessidade de depurar das suas fileiras os oportunistas e aqueles que fazem “carreira”; agora os activistas do movimento ganharam uma consciência mais aguda da necessidade de construir o seu partido – o PSUV – e de serem eles os condutores do processo nas fábricas, nas escolas, nas empresas, bairros e campos.
Não transformamos a derrota no Referendo numa vitória, mas continuamos confiantes na capacidade do povo venezuelano em aprender esta dura lição e em transformar a sociedade! A revolução continua!
Nenhum compromisso com a Oposição! Nenhum passo atrás!
Afastamento dos oportunistas e carreiristas do movimento bolivariano!
Expropriação da oligarquia!
Avante pelo socialismo!
Como foi a atividade da Grande São Paulo


Já Izaías Almada, escritor, autor do livro “Venezuela: Povo e Forças Armadas”, integrou-se na Campanha TMV, presenteando-a com um exemplar de seu livro e afirmou que “quando a gente não vê materialidade, passamos a duvidar até do que acreditamos e isso é um perigo para a revolução”, referindo-se a alto nível de abstenções devido à distância entre as condições de vida do povo e as expectativas de transformações sociais alimentadas durante 9 anos de luta. Tratando das Forças Armadas, disse: “Baduel está mostrando de que lado está.

Como passar à ofensiva?
José Antonio Hernandez
A vitória do “No” foi uma “vitória” parcial da burguesia, mas não significa o fim da revolução. Apesar dos resultados eleitorais, a correlação de forças continua sendo bastante favorável ao movimento revolucionário.
Isto demonstra-se pelo eloquente facto da oligarquia utilizar um sector reformista do movimento bolivariano para propor a “reconciliação” – vejam-se as últimas declarações de Baduel, por exemplo. Toda a pressão da burguesia se fará nesse sentido e com ela estará a ala direita do bolivarianismo. Não há outro modo, por enquanto! Por enquanto, a oligarquia sabe que não tem força para derrubar o governo; por enquanto, a oligarquia sabe que uma tentativa de golpe de estado seria derrotada pelas massas; por enquanto…
A polarização à esquerda e à direita continuará a acentuar-se, sobretudo dentro do movimento bolivariano. À direita, pressionam Chavez para a “reconciliação nacional”, mas este dá indicações de que não quererá ceder – afirmou já que “com o passado não há possibilidade de diálogo”. Quanto à burguesia, claro! Intensificará a sua sabotagem económica – veja-se a descoberta de toneladas de leite em pó açambarcadas, enquanto escasseia nos mercados populares… A burguesia usa o seu poder económico para semear a apatia, o cansaço e a descrença entre o povo. Não por acaso, no último referendo, 3 milhões de chavistas ficaram em casa…
Todavia, nenhuma revolução na história se decidiu por “Referendo”. De resto, é possível voltar a mobilizar esses sectores do movimento revolucionário que, desta vez, não foram a votos. A ala direita do movimento bolivariano considera que essa abstenção é resultado dum avanço demasiado rápido da Revolução, que é necessário fazer “marcha-atrás”, etc., etc.
Todavia, à esquerda, as massas estão passando por outra fase da escola da luta de classes. Agora vêem as coisas de modo mais claro. A ideia da “boliburguesia” é agora melhor entendida. Há uma radicalização entre as bases chavistas. – que culpam os burocratas e arrivistas infiltrados no movimento de massas de terem contribuído para a derrota através da sua incompetência, cobardia, quando não consciente sabotagem.
Por outro lado, a ideia do controlo operário e ocupações de fábricas estende-se cada vez mais entre camadas de trabalhadores. Essa vanguarda deve ser dotada dum programa genuinamente revolucionário e socialista. Daí ser necessário construir uma corrente marxista que agrupe os verdadeiros activistas e revolucionários dentro do PSUV e do movimento bolivarianos, para que se cumpram as tarefas que faltam na Revolução.
O movimento operário, o movimento da classe trabalhadora, é um elemento chave da equação. Enquanto a classe não se colocar à frente da Revolução, esta continuará a ter os seus problemas - a Revolução não pode ser obra dum único homem.
Infelizmente, o papel dos principais dirigentes sindicais da UNT tem sido o de dividir os trabalhadores incapacitando-os para a acção. É necessário desenvolver um programa e plano de luta. Por exemplo, se a UNT tivesse gizado e posto em marcha a ocupação pelos trabalhadores da Polar (há força para fazer isto e muito mais) e pô-la a produzir sob seu controlo, bem como ao conjunto da agro industria, criando conselhos de trabalhadores, seria possível garantir a distribuição de géneros, terminando assim com a escassez “produzida” pela sabotagem capitalista. Ter-se-ia já dado um enorme exemplo de como se constrói o socialismo…
O eixo da luta operária deve ser a toma e ocupação de fábricas (e de terras com os camponeses), criando, desde baixo, conselhos Operários e uni-los com os Conselhos Comunais e Estudantis. A UNT deve convocar uma Assembleia Nacional para dicutir um tal plano e programa.
É sobre esta base, sobre a base da acção e da luta que será possível unificar a classe trabalhadora em torno do programa de transição para o socialismo. A ideia de que é possível, por si, unir e mobilizar a classe trabalhadora exclusiva ou principalmente através de processos eleitorais, é uma ilusão e ilusões pagam-se caro! É através da luta que se forja a consciência e unidade da classe.
Pelas consignas:
¡Toma y ocupación de fábricas y tierras!
¡Control obrero de la producción!
¡Limpieza general, fuera la burocracia!
¡Pasemos la escoba!
¡Viva la Revolución Socialista!
Patria , Socialismo o Muerte, Venceremos!!!!!!
ATIVIDADE DA CAMPANHA EM SP
Nós havíamos convocado um ato de rua em solidariedade ao povo venezuelano e em defesa do voto SIM à Reforma Constitucional proposta pelo Governo Chávez. Mas no referendo do dia 02/12, o voto NÃO venceu por 50,7% contra 49,3%. Uma diferença de apenas 125 mil votos em quase 9 milhões de eleitores. O povo venezuelano perdeu uma batalha, mas a luta de classes continua e, na Venezuela, apesar desta derrota, continua favorável ao povo trabalhador.
A revolução em curso na Venezuela não será televisionada. A grande mídia busca fazer de tudo para ocultar, esconder do povo brasileiro a revolução venezuelana. Distorcem fatos e manipulam imagens para tentar nos convencer de que há um ditador na Venezuela, que o Governo de Chávez é antidemocrático e chegam até a sugerir que o Brasil se prepare para uma guerra contra a Venezuela! Nada mais falso e cretino! Não podemos nos deixar levar pelo que diz a Globo, revista VEJA, O Estado de SP, e etc. Está certo Lula quando responde que a democracia que hoje existe na Venezuela deve ser respeitada – enquanto figuras “muito democráticas” como Sarney e Maluf bradam contra a “ditadura de Chávez”!
Na Venezuela o povo oprimido por séculos cansou dos velhos governantes de sempre. O povo cansou de trabalhar para aumentar a riqueza dos ricos venezuelanos e dos Estados Unidos, enquanto que tinha cada vez menos comida para seus filhos. E Chávez, eleito pelo povo por duas vezes consecutivas, governa servindo aos interesses do povo! Revertendo o dinheiro da venda do petróleo para aumentar o salário dos professores em 40% e dos profissionais da saúde em 60%. Investe na educação, saúde, habitação, saneamento, cultura! E, ao contrário do que mostra a Rede Globo, Revista Veja e etc., a população sai às ruas aos milhões em apoio às medidas de Chávez. A Reforma Constitucional, que não passou no referendo, entre outras coisas, reduziria a jornada de trabalho de todos para 6 horas diárias; proibiria a existência de latifúndio e distribuiria a terra ao povo. Chávez reconheceu a derrota e disse que por enquanto não conseguimos, mas a luta pelo socialismo continua!
Mas por que não houve a vitória no referendo? Não foi porque a direita aumentou sua força não. A direita teve o mesmo número de votos que teve em outras eleições quando foi derrotada pelo povo em luta. Mas desta vez a esquerda é que não foi votar. Uma abstenção de 44% praticamente igualou as forças eleitorais da esquerda com a direita. Entretanto, a luta segue e a palavra final não será das urnas. A revolução será decidida nas ruas, escolas, fábricas, etc. Se o referendo ganhasse sabíamos que a reação do imperialismo americano aliado aos grandes capitalistas e latifundiários da Venezuela seria violenta e imediatamente teríamos que organizar uma forte resposta solidária aos trabalhadores da Venezuela. Mas agora não é o caso e, portanto, propomos mudar o caráter de nosso encontro. Vamos nos reunir pra discutir os próximos passos.
Junte-se à campanha em solidariedade à revolução venezuelana TIREM AS MÃOS DA VENEZUELA!
Vamos nos reunir para compartilhar pontos de vista sobre a revolução e o que fazer!
Dia 8 de Dezembro (Sábado) às 11h
Sala de formação da Editora Luta de Classes
Av. Santa Marina, 440 – Sala 4 – Água Branca – São Paulo – SP
(ao lado da estação Água Branca da CPTM, apenas uma estação depois do Metrô Barra Funda – integração gratuita)
Será exibido o filme “No Volverán!”
produzido pela campanha internacional “Manos fuera de Venezuela”
Comitê Nacional da Campanha “Tirem as Mãos da Venezuela”
Contato em São Paulo: (11)9843-4623 - (11)6601-3012 – (11)3615-2129 - Caio
Derrota no Referendo da Venezuela. Que significa?
Cerca da 1 da manhã, após uma longa espera, o Conselho Eleitoral Venezuelano anunciou os resultados. Por escassa margem, o Não ganhou. Logo depois, o presidente Chavez aceitou os resultados. Afirmou que a Reforma proposta não fora aceite "agora", mas que continuaria a lutar pelo socialismo.
O resultado, tal como seria de esperar, foi saudado com júbilo pela oposição de direita e todas as forças reaccionárias. Pela primeira vez numa década, conseguiram ganhar. O regozijo entre a alta classe média de Caracas era patente: "Por fim mostrámos que Chavez podia ser derrotado, por fim a deriva para o comunismo foi travada, por fim demos uma lição aos radicais".
A alegria dos reaccionários é simultaneamente prematura e exagerada. Num simples relance é possível verificar que a força eleitoral da oposição mal cresceu. Se comparamos estes resultados (com 86% dos votos escrutinados) com os resultados das eleições presidenciais de 2006, a oposição teve cerca de mais 100.000 votos, mas Chavez perdeu 2.8 milhões. Estes votos não se transferiram para a oposição, mas para a abstenção. Isto significa que o apoio da contra-revolução não aumentou significativamente em relação ao seu máximo obtido há cerca de um ano atrás.
Como a imprensa burguesa informa a opinião pública
Todo um conjunto de factores contribuiu para este resultado. A burguesia tem nas suas mãos poderosos instrumentos para moldar a opinião pública. Organizaram uma total mobilização dos Média reaccionários numa histérica campanha de mentiras e difamações contra Chavez, a Revolução e o socialismo. Esta campanha do medo teve, indubitavelmente, um efeito sobre os sectores politicamente mais atrasados da população.
A pressão foi constante. A Igreja Católica, liderada pela reaccionária Conferência Episcopal pregou desde os púlpitos contra Chavez e o "comunismo ateu". Permanentemente pagaram duas páginas de publicidade no Ultimas Noticias, um dos jornais mais lidos no país, clamando que o Estado iria retirar as crianças aos seus pais para ficarem sobre custódia do Estado e que a liberdade religiosa seria abolida!!!
Em Carabobo, o jornal regional Notitarde publicou uma primeira página afirmando "hoje tomarás uma decisão e será para toda a vida"... Por baixo uma fotografia dum talho vazio com uma bandeira cubana e um retrato de Fidel com a legenda: "isto é como o socialismo em cuba funciona hoje".Tudo isto, ao menos, expõe a hipocrisia dos Média internacionais segundo os quais "não existe liberdade de imprensa na Venezuela". Esta ruidosa campanha atingiu um crescendo há uns meses atrás quando o governo decidiu não renovar a licença de transmissão à RCTV, um canal televisivo da extrema-direita que mais não era do um ninho de conspiradores que desempenharam um papel chave no golpe de 2002.
O problema não foi a Revolução não ter limitado os direitos democráticos da oposição e ter amordaçado a "livre imprensa". O problema é que a Revolução tem sido demasiado generosa com os seus opositores, demasiado tolerante, demasiado paciente, demasiado "cavalheiresca". Deixou demasiado poder nas mãos da oligarquia e dos seus agentes. Deixou uma arma nas suas mãos que ela tem usado muito eficazmente para sabotar a revolução e, em última instância (se deixarmos) destruí-la!
Abstenções
Tudo isto é verdadeiro, mas não responde à questão. Porque ganhou o "não". O principal elemento da equação foi a abstenção: um grande número de “chavistas” não se deu ao trabalho de votar [votaram menos eleitores no "Sí" do que militantes do novo partido lançado por Chavez (PSUV) - nota do tradutor]. A questão tem de ser respondida: "porque não votaram?" Os burocratas e a classe média cinicamente culpam as massas da sua alegada apatia. Isto é completamente falso. As massas constantemente votaram por Chavez em todas as eleições e referendos. Votaram massivamente no último Dezembro. Mas agora mostram sinais de cansaço. Porquê?Após toda a conversa sobre socialismo, a oligarquia continua firmemente entrincheirada e usa o seu poder, dinheiro e influência para sabotar e minar a Revolução. Os golpistas de 2002 ainda estão em liberdade. Os Média da extrema-direita continuam a difundir as suas mentiras. Camponeses activistas são assassinados e ninguém faz nada sobre isto.
Apesar das reformas do governo, que indubitavelmente auxiliaram os pobres e desprotegidos, a maioria da população continua a viver na pobreza ou com grandes dificuldades. A sabotagem dos capitalistas e latifundiários tem provocado a escassez de produtos básicos. Tudo isto tem um efeito sobre a moral das massas.A esmagadora maioria das massas continua a apoiar Chavez e a Revolução, mas há claros sintomas de cansaço. Após 9 anos de agitação, as massas estão cansadas de discursos, paradas e manifestações, também de incontáveis eleições e referendos.
Querem menos palavras e mais acção: acção contra os latifundiários e capitalistas, acção contra os governadores e funcionários corruptos.Acima de tudo querem acção contra a quinta coluna da ala direita chavista, que enverga camisas vermelhas e fala de "socialismo do séc. XXI", mas que se opõem ao socialismo - de facto - e que estão a sabotar a revolução por dentro. A não ser que o PSUV e o movimento bolivariano seja "purgado" destes elementos, destes burocratas reformistas e carreiristas, nada será conseguido.
A Quinta Coluna
Os burocratas mais uma vez mostraram a sua total inabilidade em organizar uma séria campanha de massas. Falharam em responder às mentiras da oposição. Falharam na explicação dos muitos pontos do Referendo Constitucional que beneficiariam a classe trabalhadora, tal como as 36 horas semanais. Mas como poderiam fazê-lo, se eles mesmo se opõem a tais políticas socialistas? Esta"quinta coluna" é bem conhecida da base militante do movimento - e também dos seus inimigos.
A Time Magazine escarnecia:"Mesmo certos aliados de Chavez querem por travões na derrapagem radical do presidente. Muitas das propostas, argumentam, dizem menos respeito ao fortalecimento do poder popular, do que em concentrar poder nas mãos de Chavez. Entre as propostas: eliminar os mandatos presidenciais; pôr o Banco Central sob controlo presidencial; e a criação de vice-presidentes regionais.
Líderes provinciais como Ramón Martínez, socialista e governador do Estado de Sucre, considera esta ideia uma ignóbil centralização da autoridade federal ao mesmo tempo que uma traição da Revolução Bolivariana de Chavez. «Esta revolução era suposta criar mais pluralismo na Venezuela, não criar um mega-estado como na antiga URSS» - afirmou Martinez"
Quem quer que seja que ler estas linhas percebe que não houve uma campanha séria. Martinez não é um socialista, mas um líder de PODEMOS, esses renegados que partiram o movimento bolivariano na véspera da campanha eleitoral de modo a agitar uma violenta campanha pelo voto "não". Esta conduta não deveria surpreender ninguém. Mas não foi um caso isolado.
Em Apure, o governado não fez nada para organizar uma campanha e muitos outros comportaram-se de igual modo. Os burocratas meramente repetiram a mesma campanha desastrosa que organizaram há um ano aquando das eleições presidenciais.Um camarada de Mérida descreveu-a nestes termos: "Foi uma campanha estúpida, na qual os cartazes afirmavam que votar em Chavez era votar no amor, enquanto que a campanha da direita era histérica e caluniosa. A posição berrava que tudo seria tirado ao povo, que se tivessem duas casas, uma ser-lhes-ia retirada, se tivesse dois carros, um seria levado, que os recém-nascidos seriam levados para serem propriedade do Estado socialista"...
Após o resultado ter sido anunciado, houve uma enxurrada de telefonemas para a Rádio Nacional de Venezuela e outras estações, nas quais muitos culpavam a burocracia "chavista2 de não se ter esforçado o suficiente pelo "Sí". Muitos queixavam-se dos governadores e alcaides "chavistas" que não tinham organizado nenhuma campanha e que, pelo contrário, tinham activamente sabotado o movimento.
Estes burocratas temiam tanto as reformas como a oposição. Correctamente perceberam que as massas veriam este referendo como um acertar de contas, não apenas com a velha oligarquia, mas também contra os reformistas e elementos da nova burocracia dentro do movimento bolivariano.
As tácticas de BaduelAs declarações da oposição após o anúncio dos resultados foram altamente significativas. O primeiro "comentador" foi o líder do movimento reaccionário dos estudantes "bem", o terceiro foi Rosales, o candidato da oposição que perdeu pesadamente para Chavez no último Dezembro. Mas o segundo "comentador" da oposição, foi não outro senão o General na reforma e ex-ministro da defesa Baduel, sobre o qual tanto se tem escrito...Que é que Baduel disse? Falou da reconciliação nacional e ofereceu-se para negociar com Chavez. Renunciou a todas as intenções de organizar um golpe. Em resumo, ofereceu uma cara sorridente e uma mão amiga...
Esta é claramente uma táctica "esperta" e confirma a suspeita de que Baduel é um contra-revolucionário inteligente. Esta nova táctica da contra-revolução também reflecte a verdadeira correlação de forças que, apesar do resultado no referendo, continua a ser muito desfavorável à direita.
A Revolução não deve depositar nenhuma confiança na "mão amiga" da contra-revolução. Lembrem-se das palavras de Shakespeare: "existem punhais nos sorrisos dos homens"! A oferta de reconciliação é uma armadilha. Não pode haver reconciliação entre revolução e contra-revolução, porque não pode haver reconciliação entre ricos e pobres, entre exploradores e explorados.A única razão para esta mudança táctica é que a oposição não pode derrotar Chavez por "acção directa". Encontram-se demasiado fracos e sabem-no. Os mais estúpidos elementos da contra-revolução embriagam-se no sucesso obtido. Mas após uma bebedeira de euforia virá uma manhã de ressaca. A "vitória" foi obtida pela margem mínima: apenas conseguiram captar mais 100.000 votos e, principalmente, esta luta não se ganha apenas nas urnas.
O gordo burguês, a sua mulher e filhos, o pequeno lojista histérico, os estudantes ricos e mimados, nostálgicos pensionistas da IV República, os especuladores, ladrões, as velhas beatas manipuladas pela hierarquia reaccionária da Igreja, os "respeitáveis cidadãos da classe média" cansados da "anarquia": todos estes elementos parecem uma enorme massa eleitoral, mas na luta de classes, o seu peso é, praticamente, igual a zero.
A correlação de forçasA verdadeira correlação de forças foi mostrada pelos comícios em Caracas no final da Campanha. Tal como em Dezembro de 2006, a oposição revolveu os céus e a terra para mobilizar uma massa que se parecesse com uma larga assembleia. Todavia, no dia seguinte, as ruas da capital foram invadidas por um mar vermelho. Os dois comícios mostraram que a base activista dos "chavistas" é 5 ou 8 vezes maior do que a da oposição.A imagem ainda é mais clara no que diz respeito à presença da juventude! Os estudantes da extrema-direita são a tropa de assalto da extrema-direita. Têm sido a principal força a organizar confrontos violentos. Eles conseguiram juntar, na melhor das expectativas, cerca de 50.000 "meninos bem". Mas os estudantes chavistas reuniram, depois, 200.000 ou 300.000 no seu desfile. Nesta área decisiva da luta - a juventude - as forças activas da revolução em muito ultrapassam as forças da contra-revolução.
Do lado da Revolução está a esmagadora maioria dos trabalhadores e camponeses. Esta é a questão decisiva! Nem uma única luz brilha, nem uma única roda gira, nem um único telefone toca sem a permissão da classe trabalhadora. Esta é uma força colossal assim que for organizada e mobilizada para a transformação socialista da sociedade.
E o Exército? E o Exército? Reformistas como Heinz Dieterich estão sempre a invocar este tema como um disco riscado. Sim, o exército é a questão decisiva. Mas o exército sempre reflecte as tendências dentro da sociedade. O Exército Venezuelano viveu uma década de tormenta revolucionária. Isto deixou a sua marca!Não pode haver dúvidas que a esmagadora maioria dos soldados comuns, filhos dos trabalhadores e dos camponeses, são leais a Chavez e à Revolução. O mesmo será verdade para os sargentos e os mais baixos escalões do oficialato. Mas quanto mais subimos na hierarquia, menos clara a situação se torna. Nas últimas semanas surgiram rumores de conspirações e alguns oficiais foram presos. Isto é um sério aviso!
Entre os oficiais muitos serão fiéis a Chavez, outros serão simpatizantes da oposição ou secretamente contra-revolucionários... Mais provavelmente serão oficiais de carreira "apolíticos", cujas simpatias tombarão para um ou outro lado, dependendo do clima geral da sociedade.O facto de que o general Baduel tenha decidido adoptar um prudente e conciliatório tom, mostra que não existe uma séria base para um golpe de Estado agora. Os contra-revolucionários mais inteligentes (incluindo os agentes da CIA) compreendem que ainda não estão reunidas as condições para um novo golpe como em 2002. Porquê? Porque qualquer tentativa de lançar um golpe nesta fase traria as massas para a rua, preparadas para lutar e, se necessário fosse, para defender a Revolução!
Nestas circunstâncias, o Exército Venezuelano seria uma ferramenta muito pouco fiável para orquestrar um golpe de Estado. Conduziria a uma guerra civil e os reaccionários não estão confiantes de a poderem ganhar. E quem pode duvidar que a derrota de tal intento significaria a imediata liquidação do capitalismo no país?
Por estas considerações muito práticas, Baduel está a assumir a posição que assume. Na realidade está a jogar por tempo, esperando que as condições objectivas sejam favoráveis à contra-revolução. Temos de admitir que estes cálculos são certeiros. O tempo não joga a favor da Revolução!
O pernicioso papel das seitas sectárias
Baduel está agora a argumentar pela convocação duma Assembleia Constituinte. Esta é precisamente a palavra de ordem que muitas seitas esquerdistas estão a levantar! Os ultra-esquerdistas encontraram-se a fazer a campanha na companhia da contra-revolução e isto não deverá constituir nenhuma surpresa.
O papel de Orlando Chirinos e outros pseudo-trotskistas que apelaram ao povo para não votar ou mesmo votar contra foi absolutamente pernicioso. Estes senhores e senhoras estão tão cegos pelo seu ódio sectário a Chavez que já não conseguem diferenciar entre revolução e contra-revolução. Isto elimina-os completamente do campo progressista - quanto mais revolucionário! Mas deixemos os mortos enterrar os seus mortos"!
Os contra-revolucionários e imperialistas compreendem muito melhor a situação do que os palhaços sectários e esquerdistas. As massas foram despertas para a vida política com Chavez e são-lhe ferozmente fiéis. A burguesia tentou tudo para remover Chavez e falhou. Cada tentativa esbarrou no movimento de massas.Resolveram então dotar de paciência e jogar o "jogo da espera". Chavez foi eleito por seis anos e ainda tem cinco à sua frente. O primeiro passo da burguesia foi certificar-se de que ele não se poderia candidatar depois disso. Essa era importância do referendo do seu ponto de vista. Calculam que, se forem capazes de se verem livres de Chavez, o movimento se fragmentará em mil pedaços e assim poderão recuperar o poder.
A oposição é cautelosa porque está ciente da sua fraqueza. Sabe que não tem a força suficiente para passar à ofensiva. Mas na base da "reconciliação nacional" está a tentar com que Chavez "acalme" os ânimos" e o seu programa. Se conseguirem irão desmoralizar a base social de apoio do "chavismo", enquanto que os burocratas e reformistas se sentirão fortalecidos.
É uma táctica inteligente, mas existe um problema: apesar do resultado do referendo, eles estão condenados a suportar Chavez até 2012/13 e nenhuma outra eleição importante se levanta no horizonte.Numa situação como a venezuelana, muita coisa pode acontecer em 5 anos. Essa é a razão porque eles querem convocar uma "Assembleia Constituinte". Se conseguirem ganhar outro referendo, irão tratar de mudar a Constituição, de modo a permitir eleições antecipadas que espera ganhar - provavelmente com Baduel a candidato.
Porque estão tão confiantes de que podem ganhar? Porque a Revolução não foi levada até às últimas consequências: porque importantes sectores económicos continuam nas suas mãos e porque existe um limite tolerável pelas massas até que elas caiam na apatia e desespero.
Medidas necessárias precisam-se
Há alguns anos atrás (Maio de 2004) escrevi:"Basearmo-nos exclusivamente na vontade das massas para fazer sacrifícios é um erro. As massas podem sacrificar o dia de hoje, pelo amanhã apenas até certo ponto. Isto tem de estar sempre presente. Em última instância, a economia é decisiva".
Estas observações conservam toda a sua força. Num artigo datado de 27 de Novembro de 2007, Erik Demeester citou estatísticas dum recente relatório do Serviço Estatístico Venezuelano que revelava o que muita gente já sabia: a escassez de produtos de primeira necessidade está tornar-se incomportável. O estudo estabeleceu que o leite, a carne e o açúcar se tornaram muito difíceis de encontrar. Outros produtos como frangos, óleo de cozinha, queijo, sardinhas e feijão preto são também raros. Os analistas que compilaram o relatório entrevistaram 800 pessoas em cerca de 60 lojas e supermercados diferentes, tanto do sector público como do sector privado.
73% dos locais visitados não tinham leite em pó para a venda. 51% Já não tinham açúcar refinado, 40% não possuíam óleo de cozinha e 26% não tinham feijão preto - um alimento muito comum na dieta venezuelana.Dois terços dos consumidores sentiram a escassez de produtos, duma maneira ou outra, nas lojas que costumavam frequentar. Bichas de horas (às vezes até 4 horas) para se poder comprar leite não são mais uma excepção... Como o camarada Demeester assinalou, isto faz lembrar o Chile no qual a sabotagem económica foi usada contra o governo da Unidade Popular de Allende nos anos 70.
Para as massas, a questão do socialismo e da revolução não é abstracta, mas muito concreta. Os trabalhadores e camponeses da Venezuela têm sido extraordinariamente fiéis à Revolução. Têm demonstrado um elevado grau de maturidade revolucionária, vontade de lutar e capacidade de sacrifícios. Mas se a situação se arrasta demasiado tempo sem uma ruptura decisiva, as massas começarão a cansar-se. A começar pelos sectores mais recuados e inertes, um ambiente de apatia e de cepticismo começará a instalar-se!Se não houver um objectivo claro à vista, começarão a dizer: "já ouvimos todos estes discursos, mas nada de fundamental mudou. Qual é o sentido de votar se tanto coisa ficou por mudar? Para quê lutar?" Este é o maior perigo da Revolução. Quando só reaccionários pressentem que a maré revolucionária está a esvaziar, passarão de imediato à contra-ofensiva. Os elementos mais avançados da classe encontrar-se-ão isolados. As massas deixarão de responder aos apelos. Quando o momento chegar... a contra-revolução atacará!Aqueles que argumentam que a Revolução foi longe demais, que é necessário parar com as expropriações e chegar a um compromisso com Baduel para salvar a Revolução estão COMPLETAMENTE enganados. A razão porque um sector das massas começa a ficar desiludido não é porque a revolução tenha ido já longe demais, mas porque está sendo demasiado lenta e não foi suficientemente longe!
A crescente escassez de produtos básicos e a inflação afecta, sobretudo, a classe trabalhadora e os pobres que são a base do "chavismo". É isto que está a minar a confiança e a moral das massas e não a revolução "avançar demasiado depressa". Se aceitarmos os conselhos de reformistas como Heinz Dieterich, seguramente destruiremos a Revolução. Estaríamos a actuar como um homem equilibrado num ramo e fazendo piruetas no mesmo.
Eleições e Luta de Classes
Os Marxistas não se recusam a ir às eleições - essa é a posição dos anarquistas, não do marxismo. Por geral, a classe trabalhadora deve utilizar toda e qualquer possibilidade democrática que lhe permitida para reunir forças, conquistar uma posição após outra aos seus inimigos e preparar-se para tomar o poder.
A luta eleitoral tem jogado um papel importante na Venezuela ao unir, organizar e mobilizar as massas. Mas tem os seus limites. A luta de classes não pode ser reduzida a abstracções estatísticas ou aritméticas eleitorais. Nem o destino da revolução é determinado por leis ou Constituições! Revoluções são ganhas ou perdidas não nos escritórios de advogados ou em debates parlamentares, mas nas ruas, nas fábricas, nas cidades e nos bairros pobres, nas escolas e nos quartéis. Os reformistas defendem que os trabalhadores devem respeitar todos os pruridos legais. Mas não há assim tanto tempo, Cícero exclamou: Salus populi suprema est lex ("A vontade do povo é a Lei Suprema". Poderíamos acrescentar: A Revolução é a Lei Suprema.
Os contra-revolucionários não demonstraram nenhum respeito pela Lei ou pela Constituição em 2002 e se tivessem sido bem sucedidos no golpe tê-la-iam mandado para o lixo. E, todavia, agora berram acerca da defesa dessa mesma Constituição!Mesmo depois do referendo, Chavez tem suficientes poderes para expropriar os latifundiários, banqueiros e capitalistas. Tem o controlo da Assembleia Nacional e o apoio dos decisivos sectores da sociedade venezuelana.
Um decreto-presidencial a declarar a expropriação dos latifundiários [em grande parte está por fazer - nota do tradutor], dos banqueiros e dos capitalistas receberia um entusiástico apoio entre as massas.Os níveis de abstenção que entregaram a vitória à oposição são um aviso. As massas estão a exigir acção decisiva, não mais discursos! Pode ser que esta derrota tenha o efeito contrário! Pode levantar as massas a novos níveis de luta revolucionária. Lénine referia que a revolução, por vezes, necessita do chicote da contra-revolução. Temos visto isto antes, nos últimos 9 anos na Venezuela.
Não se pode fazer uma omoleta sem se partirem alguns ovos, nem podemos lutar com um braço amarrado atrás das costas. A Revolução não é uma partida de Xadrez com as suas claras e definidas regras. É uma luta entre antagonistas com irreconciliáveis interesses de classe.
Medidas decisivas são para defender a Revolução e desarmar a contra-revolução!A vitória no referendo do "No" será um choque salutar. A base social de apoio do chavismo está furiosa e culpa a burocracia, a quinta coluna reformista que culpam, acertadamente, pelo revés.
Estão a exigir medidas que contra a ala direita do movimento. Isso é absolutamente necessário!Os nossos slogans devem ser:
Nenhum recuo! Nenhum acordo com a Oposição!
Avante com a Revolução!
Expulsão dos carreiristas e dos burocratas!
Expropriação da oligarquia!
Armamento do povo trabalhador para combater a reacção!
Viva o socialismo!
Revolucionários concentram-se em Miraflores
O Comando Zamora reconhece que o resultado será renhido e apela à paciência de todos - sobretudo dos sectores oposicionistas que, repetidamente, ao longo dos últimos anos têm procurado destabilizar os processos eleitorais.
Por toda a jornada eleitoral, as massas populares ocuparam as ruas de Caracas e outras cidades - o melhor modo de dissuadir qulquer tipo de incidente.
Seja qual for o resultado a apurar, desde já cabe apontar que:
a) ao contrário da "democrática"União Europeia", na Venezuela o povo é chamado a pronunciar-se sobre a sua Constituição
b) a base social de apoio da revolução bolivariana continua forte e mobilizada
c) a percentagem de abstenção provavelmente mais elevada do que em anteriores escrutínios, poderá indicar algum cansaço pelos repetidos resultados eleitorais. A hora é de acção! É necessário aprofundar a revolução, transformando em realidade o socialismo venezuelano.
Seja qual for o resultado, a revolução continua na ordem do dia: uma vitória do "Não" não significará o fim da mesma. Todavia, não podemos ignorar que uma tal vitória seria - objectivamente - uma batalha derrotada do movimento revolucionário. Pelo contrário, a vitória do "Sí" - tal como aconteceu no primeiro referendo contitucional de 1999 ou na eleição presidencial de 2006 - resultará num giro à esquerda da situação política e um impulso poderoso para a acção das massas revolcuionárias, apoiadas por mais esta vitória eleitoral.
E que não haja dúvidas: não apenas nas urnas de voto, mas sobretudo em cada fábrica, conselho comunal ou escola, nas cidades e campos da Venezuela, que se joga o futuro do processo revolucionário.
Para Hugo CHAVEZ Frias
Profeta armado da Revolução:
És a chave com que se abre
O porvir duma nação.
Com a audácia dum Bolivar
Forjada no templo dos heróis,
Há-de o Novo Mundo brilhar
Com esse fogo de mil sóis.
Como Cristo és desprezado
Por fariseus e vendilhões,
Mas nessa terra levantada
Está contigo oh Desejado,
Na seara nova por ti mondada,
A fé desperta de muitos milhões!
F.
Viva a Revolução do Povo Venezuelano!
Nota das Fábricas Ocupadas em apoio a Reforma
.
O caminho apontado apesar das inevitáveis confusões e equívocos políticos, fruto da ausência de um verdadeiro partido revolucionário marxista, vai em direção a um regime de propriedade coletiva e planificada
.
Chávez dá um novo impulso à revolução venezuelana apresentando 33 reformas à Constituição. Os reacionários gritam que uma ditadura se instala, o que só pode provocar o riso de qualquer um que conhece a situação da Venezuela e que conhece o reino de “liberdade e democracia” imposto sob a base da corrupção e das baionetas pelos regimes “democráticos” capitalistas.
"A revolução desmascara seus inimigos"
A REVOLUÇAO DESMASCARA SEUS INIMIGOS

Para a burguesia, tudo pode ser admitido e mudado, menos 3 coisas: sua propriedade privada dos meios de produção, seu Estado e sua tropa de coerção e repressão (o Exército). A reforma veio mexer exatamente nessas 3 coisas
Por Wanderci Silva Bueno, da Venezuela
Gente pouco desatenta não ligou essas declarações com o que viria depois. Muller Rojas, general aposentado e destacado por Chávez para dar inicio à construção do PSUV, sai criticando a profissionalização do exército e defendendo que as tropas deveriam ter o direito de participar da vida política e participar em partidos, se afiliarem ao PSUV. Argumentava ainda que a defesa da nação contra a ameaça imperialista à revolução deveria ser feita pelo povo em armas e pela milícias do povo. Chávez, tentando manter Baduel sob controle, faz uma manobra desesperada e perigosa: sai em público negando o marxismo, o papel da classe operária, e defende o profissionalismo das FAs, aparentemente se alinhando com Baduel. Muller se retira do comando do PSUV, mas não abre mão de sua luta e de suas idéias.