O PSTU é um pequeno partido brasileiro que faz parte duma Internacional dita "trotskista". Caracterizam-se (o PSTU e as demais secções) por um extremo, por vezes virulento sectarismo. Lá no PSTU não gostam nada, mas mesmo nada do Hugo Chavez.
Quando falam ou escrevem sobre a Venezuela, nunca apontam baterias contra a oligarquia e o imperialismo. Não, para os “moronistas” do PSTU, o "inimigo" é o Hugo Chavez.
Que na Venezuela os trabalhadores tenham hoje os salários mais elevados da América Latina, que se tenha proporcionado educação, saúde, saneamento e dignidade a todo um povo, que os avanços sociais da Revolução sejam evidentes, tudo isso é coisa pouca, ou mesmo nenhuma para o PSTU e os "moronistas" em geral.
Pois bem, o PSTU e os "moronistas" em geral não perdem oportunidade para malhar no "chavismo" e quando as teorias não encaixam nos factos... bom, encaixam os factos na teoria! Confusos? Passamos a explicar.
Há uma fábrica na Venezuela chamada Sanitarios Maracay. Pela sabotagem e abandono da empresa pelo antigo patrão, essa fábrica está em autogestão desde Novembro de 2006 e os seus trabalhadores exigem a sua nacionalização.
Há algumas semanas atrás, os trabalhadores da Sanitários Maracay em conjunto com outros camaradas da FRETECO (Frente Revolucionária de Empresas em Cogestão e Ocupadas) marcaram uma jornada de luta em Carácas.
Escrevem sobre isso o PSTU e os “moronistas” em geral:
"No início do mês de maio, já cansados de diversas tentativas de diálogo com o governo de Hugo Chávez, os trabalhadores organizaram uma caravana com 10 ônibus à capital do país, Caracas"
Até poderia ser mas, logo por "azar" tanto no processo de luta na Sanitários Maracay como na constituição da FRETECO, os militantes venezuelanos da Corrente Marxista Internacional têm jogado um papel chave. E, ao contrário do PSTU dos "moronistas" em geral, a avaliação que fazemos de Chavez não é a de que ele seja "um burguês".
Ao contrário do que a meia-dúzia (serão assim tantos?) de moronistas venezuelanos, os militantes da CMI na Venezuela não se põem a ladrar à beira da estrada: estão onde os trabalhadores se encontram, seja na Sanitarios Maracay, na FRETECO, na UNT ou na constituição do PSUV.
E, decididamente, não estão contra Chavez, antes o apoiam criticamente, isto é, mantendo uma independência de classe que nos permite apoiar todas as medidas positivas do governo bolivariano, defendê-lo dos ataques da oligarquia e do imperialismo, ao mesmo tempo que fazemos propaganda e agitação das tarefas que estão por cumprir na Revolução, das ideias do marxismo revolucionário, enfim.
Logo por "azar", o PSTU, a Ruptura/FER e os "moronistas" em geral foram buscar um péssimo exemplo para tentar encaixar os factos concretos da vida na sua bem pouco consistente teoria...
Mas como não se dão por vencidos, cristalizados como se encontram nos seus próprios preconceitos, na mesma prosa distorcida, acrescentam mentido descaradamente:
"Ao passar pelo primeiro pedágio foram violentamente reprimidos pela Guarda Nacional, controlada pelo governo central"
Na realidade, essa repressão de que falam (mas não sentiram na pele...) foi ordenada não pelo "papão" do Hugo Chavez, mas pelo governado do Estado de Arágua que o próprio Chavez já tinha denunciado como um contra-revolucionário.
Quem levou a "porrada" conta assim a históriahttp://freteco.elmilitante.org/content/view/107/32/
Porém, para o PSTU, e "moronistas" em geral nada disto conta. O que conta é a denúncia! A denúncia de Chavez, não a denúncia da burguesia Venezuelana...
Para o PSTU, a Ruptura/FER e para os "moronistas" em geral, as ideias do marxismo baseiam-se na repetição mecânica dum abc de cartilha mal amanhada. Todavia, depois do abc, existem muitas mais letras.
A Venezuela é uma sociedade capitalista, na medida em que o sistema económico da mal chamada "livre empresa" ainda não foi abolido, na medida em que a burguesia ainda não foi expropriada. Por conseguinte, se o sistema é capitalista, logo, o Estado tem de ser burguês. Mas é aqui que, infelizmente para o PSTU, Ruptura FER e "moronistas" em geral termina o abc.
Já o velho Engels explicou na Origem da família, da propriedade privada e do Estado, que, em certos períodos, quando a classe dominante não é capaz de continuar a governar com os velhos métodos, mas a classe operária, paralisada pelas suas direcções, ainda não está em condições de derrubá-la, a tendência do Estado de separar-se da sociedade e adquirir cada vez mais independência, agudiza-se.
Dá-se um fenómeno que temos visto muitas vezes ao longo da história: o "cesarismo" no período de decadência da República romana, o regime da monarquia absoluta na última etapa do feudalismo e o "bonapartismo" na época contemporânea.
Em todas estas variantes, o Estado - o "executivo"- eleva-se acima da sociedade, emancipando-se de todo o tipo de controle, inclusive da classe dominante.
Com efeito, apesar de burguês, o Estado em boa medida já não é controlado pela burguesia. Quem pode afirmar que a burguesia venezuelana controla Chavez? Colocar a pergunta é respondê-la!
No início, em 1998, Chavez tinha um projecto de reformas limitadas, mas mesmo esse programa mínimo, num país semi-colonial como a Venezuela, entrou em profunda contradição com os interesses da oligarquia local e do imperialismo. Vendo que não podiam corromper ou intimidar Chavez tentaram derrubá-lo pela força (golpe de Estado de 2002, Lock-out patronal em 2003).
Falharam e falharam pela acção decisiva das massas proletárias e camponesas. A dinâmica dos acontecimentos, o "chicote" da contra-revolução, radicalizaram o processo: naturalmente também o próprio Chavez que se apoiou e se tem apoiado nas massas proletárias e camponesas para desferir golpe sobre golpe no lombo da oligarquia venezuelana e do imperialismo.
Os discursos e acções de Chavez radicalizam as massas e, por sua vez, ele é radicalizado pelas massas.
Chavez já foi tão longe, que a burguesia Venezuelana e o imperialismo jamais lhe perdoarão. Ele sabe isso, sabe que tem a cabeça a prémio e que esta estará numa bandeja se a revolução falhar.
Todavia, para o PSTU, Ruptura /FER e "mornonistas" em geral, o governo de Chavez é burguês! Só não se compreende é porque é que os burgueses esperneiam tanto com um governo que, para os "moronistas" em geral é o seu...
Outra coisa que não percebem é que o movimento "chavista" não é estanque, nem homogéneo. Muita gente que se diz "chavista" quer parar a revolução. Puseram uma boina vermelha mas são a mesma burocracia da IVª República. Em 1998 todos estavam com Chavez, mas agora, agora que o processo e o Chavez se radicalizaram, muitos sussurram contra ele. Existe toda uma burocracia "chavista" que é preciso derrotar.
E o próprio Chavez percebeu isso: daí ter apelado à criação dum Partido Socialista Unificado da Venezuela pela base e à margem dos Estados-maiores dos partidos que o apoiam desde 1998.
O governador do Estado de Arágua, que ordenou a repressão aos trabalhadores de Sanitários Maracay, é um dirigente do PODEMOS (partido social-democrata) que apoiou Chavez em 1998, mas que não vai aderir ao PSUV - tal como os "moronistas" da Venezuela. Esse governador é um dos tais burocratas e políticos de boina vermelha posta, mas que constituem uma verdadeira Vª coluna da burguesia no movimento bolivariano: quanto mais se sobre nas hierarquias e estruturas, mais burocratas reformistas se encontram, mas, inversamente, quanto mais se desce para junto das bases e do movimento popular, mais revolucionários genuínos, dispostos a servir o povo e a revolução se encontram.
É junto do movimento popular, dos trabalhadores reais, de carne e osso, "chavistas" dos quatro costados, que é preciso defender as ideias do marxismo, armá-los com a única teoria revolucionária que pode conduzi-los à vitória.
É isso que os marxistas do CMI já estão fazendo no PSUV. Este partido, em poucas semanas, foi capaz de atrair mais de 3 milhões de aderentes. Para os "moronistas" serão tudo burgueses? Não sabemos! Sobre isto não falam, pois por muito que tentassem encaixar os factos na sua teoria, teriam, necessariamente de reconhecer que na Venezuela, à margem do movimento real da classe trabalhadora, ladram muito enquanto a caravana vermelha passa.
2 comentários:
Quem aí assistiu “a revolução não será televisionada”? o que o Chavéz disse pra toda aquela massa concentrada? No finalzinho do filme, ahhh... podia aniquilar os generais golpistas pró-imperialistas, estatizar todas as emissoras e colocá-las nas mãos do povo (não do Estado, claro...), nacionalizar tudo, coletivizar sobre controle dos trabalhadores. o povo estava preparado! Mas Chavez mandou-os irem pra casa. O filme tem esse final triste por que chavez não quer esse socialismo que das lutas surgiria, senão seu próprio, o “do século XXI”.
O Cisneros, no entanto, não foi pra casa, foi pro PSUV...
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