Algumas notas sobre a renúncia de Fidel

Algumas notas sobre a renúncia de Fidel
Por Luiz Bicalho
Em muitos corações e mentes, a morte de uma pessoa significa o fim de tudo o que ele representa. É verdade, uma pessoa pode influenciar e muito o curso dos acontecimentos, para o bem e para o mal. E se esta pessoa dirigiu uma revolução e um pais por muito tempo, se virou o ícone e o ídolo de milhões, no seu pais e fora dele, então a sua saída, o seu afastamento, tem significado. Fidel foi um nacionalista burguês, que pressionado pelos acontecimentos, ao defender o seu país não teve outra saída que não a de estatizar os meios de produção e expropiar a burguesia. Nisto, ele se diferenciou de dezenas de outros “líderes” que colocados entre a cruz e a espada, preferiram se entregar. Fidel não se entregou e com isso garantiu o seu lugar na história e, mais que isso, garantiu que o povo cubano tivesse conquistas que em nenhum outro lugar da América Latina os povos tiveram. Mais: conseguiu mostrar que o socialismo é possível na América Latina. Entretanto, tomou todo o cuidado contra a “exportação” da revolução e muito de suas divergências com Che Guevara vieram disso (sem com isso querermos glorificar Che, que como alguns revolucionários pequenos-burgueses, teve o mérito de tentar expandir a revolução, mas não conseguiu nunca entender a necessidade de organizar a classe operária).
Ninguém duvida que a sua saída levará, no governo, a um caminho em direção a destruição das conquistas da revolução.
Em uma matéria no site do OESP, encontramos:
Frei Betto, que se encontrou com Raúl na semana passada, prevê a continuidade do socialismo em Cuba, "país pobre mas sem miséria", diz.

"A meu ver, iludem-se aqueles que pensam que haja qualquer sinal de volta do capitalismo. Em Cuba, não há nenhum setor organizado, representativo, que queira uma Cuba capitalista de novo", afirmou.

"Quem queria foi embora ou já morreu. Quem está lá é uma geração que foi beneficiada pela revolução em questões básicas de saúde e educação. Em uma Cuba capitalista, em poucos anos voltaria a desigualdade e a miséria", completou.

Com a postura de quem privou de conversas recentes com Raúl, ele acredita que a precária situação econômica deve levar Cuba a algum tipo de abertura, como a ampliação das parcerias estrangeiras, mas longe do estilo chinês, onde há um grande espectro de associações capitalistas.

“Em Cuba, não há nenhum setor organizado, representativo, que queira uma Cuba capitalista de novo”? Será verdade? Mas na China, na URSS, na Europa do Leste foram justamente de dentro dos Partidos Comunistas que surgiram os “setores organizados” que defenderam e organizaram a volta ao capitalismo, inclusive aproveitando-se deste fato para roubar partes da propriedade social em seu próprio proveito, tornando-se milionários da noite para o dia, donos de empresas ou mafiosos.
Nós concordamos com ele: “Em uma Cuba capitalista, em poucos anos voltaria a desigualdade e a miséria”. Mas sabemos que não bastam as boas intenções. Temos confiança é que a classe trabalhadora cubana saiba defender as conquistas de sua revolução, saiba defender-se dos ataques do imperialismo que já começaram.
Bush, puxando o coro depois repetido por todos os líderes dos paises imperialistas declara: “vamos ajudar o povo cubano a retomar a democracia”. De que democracia ele fala? Dos EUA? Onde qualquer um pode ser preso a vida inteira sem julgamento? Da prisão de Guatanamo? Da democracia que “implantaram” no Iraque?
Nós estamos ao lado dos trabalhadores Cubanos, na sua luta contra esta posição do imperialismo, nesta hora difícil. Sabemos que os trabalhadores e juventude terão os seus olhos voltados para Cuba. Quando fazemos a defesa da Revolução Venezuelana (www.tiremasmaosdavenezuela.blogspot.com) estamos mostrando de que lado estamos, de que lado estão os trabalhadores do mundo inteiro. Continuaremos acompanhando o assunto.


O lado deles: o que dizem “analistas”, “economistas”, “especialistas” e outros “istas” pagos pelo Capital:

(extraído de um texto de ESTEBAN ISRAEL – REUTERS)...
Economistas em Cuba descartam reformas econômicas estruturais no curto prazo e apostam em mudanças paulatinas em setores como agricultura.
Para Phil Peters, especialista em Cuba do Lexington Institute em Washington, o impacto da aposentadoria de Fidel ainda é incerto. "Mas suas idéias ortodoxas perderão força em um governo que busca soluções para profundos problemas econômicos criados pela centralização e pelo planejamento excessivo, sem mencionar a falta de liberdade econômica", disse ele.
O gerente de uma empresa multinacional que opera em Cuba concorda. "A transição em Cuba ocorreu um ano e meio atrás. Este é um passo na direção correta de dar continuidade às reformas que a economia tanto precisa", disse ele, que preferiu não se identificar.
Frank Mora, analista político do National War College em Washington, não espera mudanças imediatas. "Cuba não mudará de forma significativa agora nem quando Fidel Castro morrer. Os raulistas entendem os perigos de fazer muitas reformas econômicas rápido demais."
Mora, do National War College, acredita que a aposentadoria de Fidel é a segunda fase de um processo de transição que começou com sua doença em julho de 2006. "A terceira fase chegará quando ele morrer. Em cada etapa, os líderes pós-Fidel estão assumindo mais poder e influência para determinar o futuro de Cuba de uma forma que poderia parecer antiética segundo a visão de Fidel sobre como deve organizar-se o governo de Cuba", disse ele.

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