Por Yonie Moreno, Corrente Marxista Revolucionária (CMR) da Venezuela
Quarta-feira, 17 de setembro de 2008
À conciliação oferecida pelos reformistas, a burguesia responde preparando outro golpe
Nos últimos dias, foi descoberto um novo complô por parte de um grupo de militares reformados e da ativa na Venezuela, segundo revelou em seu programa de televisão "La hojilla" da quinta-feira passada, o candidato a governador de Carabobo pelo PSUV, Mario Silva, em várias gravações a mando dos militares reformados. Hora depois eram detidos vários deles. Segundo relatava Aporrea (www.aporrea.org):
“No vídeo se escutam conversas telefônicas entre o General de Divisão do Exército Wilfredo Barroso Herrea; o Vicealmirante Millán Millán e o General de Brigada da Aviação Eduardo Báez Torrealba.
Os envolvidos falam de tomar o Palácio de Miraflores e assinalam como objetivo principal, dirigir todos os esforços até onde esteja “este senhor”, referindo-se ao presidente Hugo Chávez. “Se está em Miraflores até lá faremos o esforço”, se escuta nas conversações sustentadas pelos organizadores do golpe.
Ouve-se também: “vamos tomar o Palácio de Miraflores, vamos tomar as emissoras de televisão. O objetivo tem que ser um só (...) esse esforço de unidade tem que ser até o Palácio de Miraflores, porque é a unidade de combate”.
Entre os planos destes militares está garantir o controle do Comando da Armada, de acordo com as conversações sustentadas por eles no vídeo. Na conversa, eles dividem a operação em três zonas, a do oriente, ocidente e central.
Propõem fazer “uma possível operação” na chegada do presidente Chávez de alguma viagem. Uma das operações poderia ser em vôo, capturá-lo com aviões no ar (...) ou seja, haveríamos de armá-lo bem”, indicam.
Assinalam nas conversas que contam com comandantes, coronéis e pilotos - um com mil horas de vôo em F-16 - dispostos a seguir instruções.
“Assim o mais importante são os pilotos. Há um piloto que tem mil horas de vôo em F-16 e outro é instrutor, que são os que vão decolar os aviões. Esse comandante, que é um instrutor, tem outros muchachitos abaixo, uns capitães e uns maiores que deram instruções que também estão dispostos a seguir-lo, e esse é o homem de segurança dentro da Base Libertador que está conosco”, continua a conversa.
“Ele me disse: eu ponho os pilotos e os coloco em um avião. Ele é o comandante, a ele não vão questionar, nem nada. É o comandante da polícia ali (...)”, se ouve também na gravação (http://www.aporrea.org/actualidad/n120419.html).
Evidentemente, este é um complô em grande escala em que estão envolvidos não somente militares reformados e sim também da ativa. Vários dos participantes nesta conspiração já foram detidos. Na tarde de quinta houve concentração das bases revolucionárias em Miraflores e ocorreram mobilizações de massa em todo o país, em resposta a esses planos.
Este novo complô coincide no tempo com a nova ofensiva do imperialismo e a oligarquia contra a revolução boliviana em uma tentativa de derrubar o governo de Evo Morales e que resultou de imediato, em oito mortes e dezenas de feridos pelas mãos de grupos fascistas e paramilitares organizados pela burguesia e o imperialismo.
Em resposta ao papel instigador do governo dos EUA na tentativa de golpe na Bolívia, o governo de Evo Morales expulsou o embaixador dos Estados Unidos.
Horas mais tarde o governo do presidente Chávez, em solidariedade com a Bolívia, expulsava o embaixador norte-americano. Também o presidente Chávez declarava: “Sem ânimo de ingerência em assuntos internos da Bolívia, faço um chamado aos militares da Bolívia. Se derrubam Evo, se matam Evo, acreditem que me estariam dando luz verde para apoiar qualquer movimento armado em Bolívia”. Em um discurso transmitido em cadeia de rádio e televisão, Chávez indicou que “se a oligarquia e os ‘mini-ianques’ dirigidos, financiados, armados pelo império, derrubam algum governo nosso, teríamos luz verde para iniciar operações de qualquer tipo”.
Fracasso da política de conciliação com a burguesia impulsionada pelos reformistas
Desde o começo do governo nacional, sob a pressão dos setores reformistas e stalinistas dentro do movimento bolivariano, foram feitos chamados à oposição e à burguesia para dialogar. Como em outras ocasiões, isso não tem servido para nada – nem no terreno do investimento produtivo, nem no político – e os reacionários se dedicam a conspirar com redobrada força. Como após o 11 de abril de 2002, os chamados ao diálogo foram interpretados pela oposição como sinais de debilidade e prepararam o paro petroleiro. A debilidade convida à agressão. O mesmo ocorreu em 2004. Os chamados ao diálogo após a derrota da oposição do paro petroleiro conduziu a outra acometida: o referendo revogatório. De novo a mobilização do povo, e não aos chamados à conciliação, foi o que salvou a revolução.
Quem são os culpados desta intentona golpista? José Vicente Rangel em seu programa de televisão assinalava: “Isto está estimulado por setores da oposição que não têm nenhuma fé no sistema democrático, já demonstraram reiteradamente, estamos em um quadro que é delicado e que tem que ser levado em consideração. É por isso que em meu programa de televisão, desde mais ou menos 4 semanas, venho denunciando o que se está planejando e também na coluna que tenho no diário "Últimas Notícias”. E por acaso há setores da oposição que tenham fé no sistema democrático? A oposição, como demonstra 10 anos de revolução, assim como o imperialismo, vão recorrer a todo tipo de métodos legais e ilegais para tirar Chávez e derrotar a revolução. Não há dois setores da burguesia, um democrático patriota e outro golpista. A oligarquia venezuelana em sua imensa maioria é contra-revolucionária. A burguesia aceita o parlamentarismo enquanto a luta de classes não ameace a propriedade privada. Se os capitalistas vêem em perigo seu domínio, se esquecem da "democracia". A experiência da revolução chilena em 1973, que completa 35 anos, é eloqüente. Também a situação atual na Bolívia, onde pese a legitimação democrática obtida por Evo Morales no último referendo revogatório, a burguesia e o imperialismo despreza a vontade das massas quando seus interesses estão em perigo. Chegado o momento decisivo para defender seus privilégios, a oposição e a burguesia abandonam o traje democrático, demasiado estreito para quebrar a cabeça dos trabalhadores e pobres e esmagar a revolução.
A impunidade anima a reação
A lei de anistia de 31 de dezembro de 2007 está sendo utilizada pelos reacionários para preparar uma nova conspiração. Sob o conselho dos reformistas, oferecemos a mão e, uma vez mais, querem aproveitar para cortar nosso braço.
Enquanto os reacionários que participaram no golpe de 2002 puderem andar livremente pelas ruas de Caracas haverá conspirações e novas tentativas de golpe de estado: a oligarquia não se dará por vencida. Ao mesmo tempo, enquanto mantiverem o poder econômico, terão os meios e recursos para sabotar a revolução e se organizar. A medida fundamental contra os reacionários é cortar-lhes o braço econômico de seu apoio. As nacionalizações vão ao caminho adequado sempre que forem na via da nacionalização dos meios de produção para planificar a economia. "Não se pode planificar o que não se controla e não se pode controlar o que não se possui", assinala Alan Woods em seu livro "Reformismo ou Revolução".
As bases revolucionárias não podemos confiar na fiscalização e no aparato judicial que demonstra ser completamente incapaz de atuar contra os conspiradores. É necessário que a democracia participativa chegue também à justiça. Sobre a base dos conselhos comunais e conselhos de fábrica desde a base trabalhadora da revolução, é necessário que o próprio povo julgue os golpistas através de tribunais populares.
Há que revogar as leis de anistia de dezembro de 2007 e processar todos os culpados do golpe de 2002 e do paro petroleiro. Se estes conspiradores vencessem, alguém acredita que os golpistas iam anistiar o povo revolucionário, os ativistas do PSUV, os sindicalistas, os camponeses revolucionários? Sabemos qual é o caminho, o de Chile ou Argentina e de muitas outras revoluções afogadas em sangue pela burguesia.
Também mostra que a Força Armada bolivariana está corroída por contradições de classe, atuando em seu seio a luta entre revolução e contra-revolução. Esses comandantes do exército que estavam reformados tinham antes posições de comando importantes. Quantos oficiais existem dentro do exército que têm dúvidas ou estão abertamente com a reação? Quantos novos Baduel nos reserva o futuro? A única garantia de que o exército esteja do lado do povo é através de uma união cívica militar efetiva, que passe pela entrada da política nos quartéis, que os militares possam estar filiados no PSUV, assembléias de soldados onde se eleja democraticamente os comandos, o armamento geral do povo com o desenvolvimento da reserva em todas as fábricas, bairros, comunidades, etc.
Como assinalou recentemente o presidente Chávez, a principal lição da derrota da revolução chilena é que uma revolução deve estar armada. A única garantia frente a qualquer tentativa contra-revolucionária é o povo estar vigilante, armado e que a revolução leve suas tarefas até o fim, expropriando a burguesia e desenvolvendo uma economia nacionalizada e planificada para terminar com as pragas da anarquia capitalista na Venezuela.
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