Preparando novos passos: discutindo o papel do controle operário


Relato do 8º dia (18/04/2013) do camarada Alexandre Mandl, enviado da Campanha "Tirem as Mãos da Venezuela" a Caracas:

Compas,
Alguns aspectos interessantes que aconteceram hoje:

Primeiro:

Ao mesmo tempo em que Capriles protocolou, somente hoje, formalmente, o pedido de recontagem dos votos. Interessante é que enquanto ele fazia isso, a população do Estado de Miranda, na qual ele é o governador, mas que está afastado há dois anos para fazer campanha, apresentou um pedido formal ao CNE para que ele se manifeste publicamente se vai voltar a ser governador, ou não, se decidirá abandonar seu cargo, uma vez que, até agora, ele não voltou para exercer seu mandato. Isso é uma forma divertida e provocadora, mas com reais fundamentos democráticos, de que ele, se é governador, deve governar, porque, senão, será caracterizado abandono de sua função.

Com o protocolo em mãos, o CNE pode ver exatamente o que Capriles diz, e apenas se reforça a baboseira que está argumentando. A suposta fraude é banal. Veja esse breve texto que explica o erro infantil e a clara má-fé em induzir ao erro o CNE, à população em geral, buscando criar uma matriz de opinião agressiva contra as eleições - http://www.aporrea.org/actualidad/n227163.html

Segundo:

Hoje faleceu mais uma militante do PSUV que havia sido atacada pelos golpistas fascistas. Maduro esteve nos enterros dos demais companheiros, e disse que essas mortes foram resultados de um plano de golpe que o setor de inteligência conseguiu derrubar, e que eles, apesar de civis, morrem como guerreiros do exército bolivariano revolucionário.

A violência chamada por Capriles ainda deverá ter outras consequências. Houve um ato hoje de jornalistas  - http://www.aporrea.org/oposicion/n227217.html e de advogados, denunciando a responsabilidade criminal de Capriles pelas mortes, tendo em vista que chamou às ruas para provocar “La muerte del chavismo” e “que descarguen su arrechera en las calles”. Vejam - http://www.aporrea.org/oposicion/n227208.html

Além da responsabilidade criminal, indica-se que há uma preparação para pedir o impeachment de Capriles como governador, por desrespeito básico aos seus deveres constitucionais outorgados pelo mandato - http://www.aporrea.org/actualidad/n227145.html

Terceiro:

Hoje houve alguns pontos de concentração de chavistas, principalmente para já sinalizar a grande manifestação que ocorrerá amanhã, em frente à Assembleia Nacional, que dará posse ao presidente eleito, Nicolás Maduro.

Houve um pedido da oposição para que a Assembleia Nacional não fizesse essa diplomação, assim como ao TSJ (Tribunal Superior de Justiça – equivalente ao STF brasileiro). Ambos disseram que tal pleito não possui qualquer razão de ser e, mais uma vez, que deve ser respeitado o CNE e o direito democrático das urnas.

Agora à noite, o centro de Caracas, de forma espontânea, estava tomado por chavistas, com músicas e festas, com queima de fogos e tudo, celebrando a festa de amanhã – que, por sinal, é feriado (Dia da Independência).

Não há, necessariamente, um clima de tensão que tinha, mas ainda há pontualmente agressões e violência, continuam algumas ações fascistas, com ataques a rádios comunitárias, ataques a um jornalista da VTV, agressões verbais nas ruas, ou seja, ainda há tensões e os chavistas estão dizendo que ainda “não podem baixar a guarda”.

Quarto:

Somente os EUA continuam reafirmando que não reconhecem os resultados. Interessante, portanto, que durante o dia, houve uma série de reportagens para dizer como se dá a eleição nos EUA, e como Bush e Obama foram eleitos. Chega a ser ridículo como é descarado o ataque imperialista que financia isso.

Nas ruas se ouve cada vez mais um ódio “al imperialismo y a lós yanquis de mierda”. Acho que essa questão deverá se acentuar no próximo período, porque Maduro disse ontem, quando falava de Obama, o quanto Chávez o respeitava, apesar de discordar em muitos aspectos. E o Maduro ressaltou foi que essa ação sustentada financeiramente e politicamente pelos EUA é um desrespeito à memória de Chávez e que uma traição a um homem de caráter, etc. Isso agitou bem os chavistas...

Quinto:

Interessante que a Espanha não tinha acatado os resultados eleitorais até ontem, quando saiu uma nota oficial. Engraçado porque há dois dias, Maduro, dizendo das necessidades de avançar nas expropriações e ter mais controle de setores estratégicos, citou nominalmente a Repsol, dizendo para que “ficassem espertos”, afirmando que “nosotros sabemos lo que debemos hacer”.

Com isso, ontem saiu a nota oficial da Espanha e hoje eles lançam mais uma nota, dizendo que, respeitosamente, conclamam Maduro como presidente - http://www.aporrea.org/venezuelaexterior/n227209.html. Chega a ser patético...

Sexto:

Hoje fiz duas apresentações sobre a história do Movimento das Fábricas Ocupadas do Brasil, narrando a resistência da Flaskô, mas, muito mais do que isso, apresentando a necessidade da estatização sob controle operário (nacionalización bajo control obrero), trazendo a base teórica e as experiências reais da classe trabalhadora em toda sua história. O convite foi feito na terça-feira, pelo atual vice-ministro, Guy Vernaez. Pela manhã foi na sede do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, e, à tarde, especificamente, para um grupo do CODECYT (Coordenação de Projetos de Desenvolvimento em Ciência e Tecnologia), que estão responsáveis pelos trabalhos junto às fábricas ocupadas na Venezuela. Na primeira havia cerca de 40 trabalhadores, e na segunda cerca de 30.

Ou seja, tratava-se de uma grande atividade, de muita importância, não somente para narrar nossa história no Brasil, mostrando, inclusive, o caráter do governo Lula que realizou a intervenção na Cipla e Interfibra, mas, essencialmente, para ajudar os camaradas da Frente Bicentenaria de Fábricas Recuperadas da Venezuela (www.controlobrero.org) e os camaradas da seção venezuelana da Corrente Marxista Internacional (www.luchadeclases.org.ve), que também estiveram presentes nas atividades.

Os trabalhadores gostaram muito, perguntando várias questões, sendo que a atividade estava programada para ser feita em 1 hora cada, e durou mais de 3 horas cada. Havia trabalhadores que representavam a verdadeira burocracia do Estado, e foi interessante suas reações. Alguns, honestamente e entusiasmados, entenderam o que devem fazer. Outros, também honestamente, é verdade, em suas expressões ou perguntas, deixavam claro que estavam cumprindo muito mais um papel de contenção social do que ajudar, efetivamente, as fábricas que são ocupadas e lutam pela nacionalização.

Os trabalhadores ficaram maravilhados em conhecer nossa história de unidade latino-americana na defesa das fábricas ocupadas, bem como a relação política e econômica da Cipla com a Petrocasa, discutindo, inclusive, possibilidade de retomar alguns acordos via Flaskô, com alguns importantes encaminhamentos e bons contatos.

Por fim, todos se manifestaram a favor dos pleitos da Flaskô, se comprometendo ao apoio à Conferência de 10 anos da Flaskô, em junho de 2013, mas, principalmente, pela declaração de interesse social da Fábrica Ocupada Flaskô e de que qualquer fábrica que for ocupada pelos trabalhadores, assim como contra qualquer criminalização do movimento das fábricas ocupadas.

Sétimo:

Por último, depois que saímos dessas atividades, fomos para a fábrica Azertia, que está ocupada há 5 meses, mas ainda não voltou a produzir. Eles estão preocupados, assim como sempre nós estivemos, em voltar a produzir sob controle operário.

Fizemos uma boa conversa, mas estavam apenas alguns trabalhadores. Marcamos que sábado voltarei para participar de uma assembleia geral especificamente convocada para tanto.

A fábrica é extremamente estratégica porque é uma gráfica que imprime papel moeda, tickets alimentação, cheques dos bancos oficiais, etc. Então, o debate para que seja nacionalizada e colocada sob controle operário será fundamental para avançar a reivindicação da expropriação dos bancos. Vamos ver como essa luta avançará. A Frente Bicentenária está acompanhando de perto essa realidade há mais de 8 meses, quando começaram as greves e o caminho para seu fechamento.

Oitavo e último ponto de hoje:

Maduro disse hoje novamente que se a direita radicalizar, ele também vai radicalizar. Nós discutimos muito isso, ressaltando que a radicalização não é uma condição, ou uma ação diante de condições da direita. Deverá radicalizar porque essa é a única forma de garantir que o processo da revolução venezuelano avance, expropriando os capitalistas. Como um trabalhador da Azertia disse, ou Maduro avança, pressionado pelos movimentos nas ruas, ou perderá as próximas eleições. E para isso, terá que romper com os burocratas e os reformistas. Ou seja, se Maduro não fizer isso será derrotado por um dos lados... ou será derrotado pelas eleições formais, onde Capriles teve praticamente 50% dos votos, ou será atropelado pelas bases chavistas, que estão exigindo que a revolução avance ao socialismo.

Isso, como estamos dizendo desde seu discurso de posse, considerando a votação apertada, somente acelerou o que reivindicamos há anos ao próprio Chávez e à classe trabalhadora venezuelana – É preciso completar a revolução.

E foi com esse recado que a entrevista de Alan Woods à Telesur se concentra e foi tema de debates com alguns companheiros por aqui. Quem ainda não viu, recomendo:
http://www.youtube.com/watch?v=9_mRcrfVMXM

E ainda, o texto de balanço feito pela Corrente Marxista Internacional, o qual assino embaixo:
http://tiremasmaosdavenezuela.blogspot.com.br/2013/04/eleicoes-presidenciais-venezuelanas-uma.html

Foi com esse chamado que discutimos basicamente o dia de hoje – o papel do controle operário para a luta do socialismo, com a planificação econômica a partir das nacionalização sob controle operário.

Um comentário:

João Luiz Pereira Tavares disse...

Bom…,
Portanto, visto que agorinha chegou o amanhecer do 1º domingo de 2017, vamos vestir-nos, tomarmos o café da manhã — de preferência um capuccino –, e vamos trabalhar no PC para ter dias melhores, tendo sempre o capacete e a espada à mão.

Os nossos inimigos já sabemos! São a picaretagem, a baranguice, a cafonice, o Kitsch, a breguice e a mentira publicitária das velhas e velhos de Mídias Sociais do Petismo. Nem esquerda; nem direita.

Embora, o específico PT, na atualidade recente, por outro lado, já tenham sido privados daquela imagem ilusória de invencibilidade que tinha sido criada por João Santana, e feito tanta gente tornar-se isentona e alienada, postando coisinhas infantis e oba-oba em sítios como o G+ e Facebook. E, daí, esquecendo totalmente de falar da picaretagem do PT.

Todos esses bregas e essas bregas, que são categoricamente a favor das forças financeiras das trevas, vão continuar passivas e isentonas em 2017! Como se nem o ano 2016 tivesse acabado e passado. Afinal, sabemos, petistas têm Natal e reveillon ruins e antiquados. O ano 2016 foi o da vitória. Esses asseclas do Petismo estão longe de ser derrotados. A baranguice é tal qual ERVA DANINHA, cresce a minuto e a rodo. Portanto fiquem de OlhOs bem abertos!

MAS, MESMO ASSIM, SERÁ UMA NOITE NÃO SOTURNA E SIM SOLAR E ALEGRE!

O que queremos dizer é que a luta continua. Mas será uma luta mais alegre e mais solar, porque vemos divisões e dúvida no coração do inimigo, e vemos as primeiras luzes do sol, depois de uma longa noite de 13 anos de toda espécie de baranguice.

¿Por quê? ¿Por que dizemos que será uma luta mais alegre?

Porque afinal a analfabeta política, de 50 milhões de votos, foi dado-lhe um ponta-pé na traseira pensante que ela leva sobre o pescoço, naquele glorioso ano de 2016.

Por mais que possa parecer estranho e paradoxal, se milhões de brasileiros encontrarem mais coragem para se opor à máquina infernal que os aprisiona, a encontrarão também os milhões de cidadãos estadunidenses, que têm demonstrado que não querem mais ser soldadinhos de chumbo dispensáveis ou vacas leiteiras. Claro que estou a falar de gente pensante, e não de bregas, nem de universitárias de unidades decadentes do interior brasileiro e muito menos estou a debater a respeito de i-sen-to-nas.

E, por mais estranho que pareça, mudando um pouco de assunto, um engraçado irlandês meio alemão que construiu um império hoteleiro, poderá, agora, jogar suas cartas no grande jogo. Digo lá nos Estados Unidos da América (país esse que nos permite está escrevendo nesse Newsletter nesse exato momento, o inventor da Internet).

Não sabendo para que lado ele vai jogar exatamente, mas tendo em vista aqueles que tudo fizeram para impedir sua eleição, desejamos, desportivamente, poder apreciar a sua devida revanche! Dia 20 é a posse. Corajoso, que fala o que pensa, sem picaretagem fingida. Sem a tolice do politicamente-hipócrita-correto.