Relatado das ruas de Caracas - 15 de abril



Relato do 5º dia (15/04/2013 - Dia seguinte da eleição) do camarada Alexandre Mandl, enviado da Campanha "Tirem as Mãos da Venezuela" a Caracas:

Passado o susto, avançar a revolução rumo ao socialismo! Mas, junto com isso, urgentemente, sair às ruas para defender o processo contra a burguesia golpista!

Compas, sugiro que leiam esse ótimo artigo do Camarada Wanderci Bueno, sintetiza minha avaliação política - http://tiremasmaosdavenezuela.blogspot.com.br/2013/04/maduro-vence-capriles-exigira.html

Ou seja, não é só que estamos dizendo que esse deve ser o caminho, mas sim que o sentimento de muitos trabalhadores e jovens, moradores dos "barrios", de que devemos avançar a revolução rumo ao socialismo e não cair no reformismo e nas armadilhas da burocracia. Esse é o maior sentimento e das falas de muitas pessoas nas ruas. O processo precisa avançar...

Agora, o mais interessante é que dizem... isso se faz nas ruas... e não só nas urnas... e dizem que farão a defesa do processo revolucionário venezuelano nas ruas.

O sentimento de ontem era de festa até o anúncio do resultado oficial. Às 17h tinha saído o informe da CANTV de que colocava dez pontos de diferença. Foi o que postei. Capriles havia organizado (e foi bem sucedido nisso) da juventude votar no fim da tarde, para atrasar o resultado, criar confusões. Às 19h começamos a receber informes de que tinha caído para 6% e depois das 21h já tínhamos informes de que caía para 3% e mesmo 2%. O clima que era de festa completa se tornou angústia, pois ainda reforçava-se a vitória, mas apertadíssima, o que provocaria a tensão da oposição acusando de fraude, e a pressão do reformismo para ceder aos ataques da direita.

Lembrando... 50,66% contra 49,07%. Interessante é ver que candidaturas minúsculas, com objetivos de somente se fortalecerem para o legislativo mais adiante, tiveram, juntas mais que esses 235 mil votos. Ou seja, poderiam ter definido.

Entretanto, o balanço feito depois de todo o discurso do Maduro, ouvindo com calma algumas considerações, olhando as pessoas nas ruas, já na madrugada, e depois da reunião que a seção venezuelana fez pela manhã, avaliando o resultado, temos que ele é até mesmo positivo, pois mostra a necessidade de mudar as coisas. Se tivesse ganhado com os 10%, o chavismo continuaria no ritmo que está. Essa margem apertada fez com que todos estejam preocupados, mas entusiasmados para dizer que devemos avançar rumo ao socialismo. Veja as fotos da festa da vitória do Maduro no "barrio" 23 de enero e no "Cuartel de La Montaña", onde está Chávez, e depois do discurso após o resultado do CNE, no palácio Miraflores.

A consigna de “No volverán!”, ontem surgiu como “No Volverán?”. Se ganhassem eleitoralmente, o que ocorreria? Quase que voltaram pela via eleitoral. Como alguns diziam aqui, se a eleição fosse daqui a 2 ou 3 semanas, ou se tivesse chovido muito, poderia ter sido diferente esses 235 mil votos. Poderia ter passado aqui, com suas diferenças, é claro, o que foi a derrota da revolução sandinista. Isso ganha força num contexto de instabilidade criada pela oposição, que se recusou a reconhecer o resultado e foi para as ruas provocar a insegurança e violência. Vejam o que estão fazendo:

Os anti-chavistas colocaram fogo em duas sedes do PSUV (Partido Socialista Unido de Venezuela) - http://www.aporrea.org/actualidad/n226940.html

Os anti-chavistas realizaram atos para induzir falsamente fraude, mas com fotos antigas e editadas - http://www.aporrea.org/actualidad/n226929.html

Os anti-chavistas fizeram ato em direção à VTV (Venezuela Televisión) - http://www.aporrea.org/actualidad/n226946.html

Oposicionistas realizam agressão a jornalistas - http://www.aporrea.org/oposicion/n226932.html

Fotógrafo da Barrio TV foi hospitalizado depois de ter sido atingido por tiros, mas não corre risco de vida - http://www.aporrea.org/medios/n226881.html

Agora, isso tem que ser entendido, portanto, que é muito mais do que as questões na Venezuela. Vejam que a OEA, os EUA e a Espanha não reconheceram o resultado eleitoral e sustentam politicamente os golpistas venezuelanos. Houve dezenas de observadores internacionais, assim como já houve o reconhecimento eleitoral de quase todos os países, que enviaram saudações à Maduro. A UNASUL, que também acompanhou as eleições, leu hoje seu parecer de respaldo à legalidade e à transparência do processo.

Lembrando... o voto é eletrônico, como o nosso, mas além de digitar na máquina, sai como um recibo e você deposita na urna. É isso que Capriles quer contar. É só para causar o caos mesmo.

Vale dizer que a melhor coisa do discurso do Maduro após o anúncio do resultado, ontem, no palácio miraflores, foi denunciar a tentativa de pacto proposto por Capriles. Assim que saiu o resultado, Capriles ligou para Maduro e disse que ele era presidente de “meio país”, e por isso, queria propor um acordo de unidade, de interesses, e que assinassem um acordo antes da entrega da diplomação de Maduro. Disse que isso seria o melhor para a Venezuela.

Maduro foi duro. Denunciou isso e disse que não negocia com golpistas, que o governo não serve para acordos com nomes e cargos, mas sim um processo revolucionário socialista e que não pactuariam com uma burguesia reacionária e golpista. Maduro deixou claro a tentativa de cooptação de Capriles, expondo à todos o acordo que lhe foi proposto. Capriles dizia que tinha apoio internacional e que pelo bem da Venezuela, era preciso que ele estivesse junto. Apoio internacional de quem?

Vejam o ótimo texto de Luiz Bicalho que mostra como os EUA está bancando essa resistência - http://tiremasmaosdavenezuela.blogspot.com.br/2013/04/a-verdadeira-face-da-oposicao.html - Essa é a verdadeira cara da oposição, quem a financia e a sustenta, especialmente para desgastar politicamente o processo revolucionário.

Eles tiveram 7 milhões de votos, e saem fortalecidos, justamente para tensionar, fazer sangrar o processo, causando esses confrontos, sob a conivência dos grandes meios de comunicação. Vocês estão vendo o que a Globo e companhia estão falando por aí.

Os jornais de hoje trazem detalhes e números da votação. Capriles tem usado que “maduro foi derrotado”, eleitoralmente mas também legitimamente. O balanço pelos chavistas ainda está sendo feito, mas já se fala em vários erros eleitorais, como priorizar o foco na “classe média”, bem como problemas de fundo, como a constatação de que o PSUV não pode ser um simples partido eleitoral, mas sim um Partido da classe trabalhadora, bem como os limites que a burocracia e o reformismo lhe colocam.

Hoje houve duas grandes manifestações em Caracas. Uma na parte rica da cidade (Altamira e Chacao), a oposição foi às ruas defender a “democracia”. Basicamente eram estudantes e a elite mais clara da Venezuela. Estavam com cerca de 200-300 pessoas. Eu fui lá ver e tirei uma foto (que está no álbum no Facebook).

Marcharam pelas ruas, chegando depois à sede da televisão estatal da Venezuela. Foram recebidos com músicas históricas do processo revolucionário venezuelano, e com muitas músicas do cantor popular Alí Primera.

No interior, a oposição tem feito as agressões que mencionei acima, sendo importante destacar que são ataques eminentemente políticos contra as organizações “chavistas”. O maior símbolo foi atacar ao PSUV.

Maduro foi à televisão, assim como o chefe do exército e a presidente do Conselho Nacional Eleitoral dizer que Capriles é responsável pelas atitudes fascistas que estão ocorrendo nas ruas. Eu presenciei essa tensão durante todo o dia.

As pessoas estão tensas, olhando “torto” para todos no metrô, trem, ônibus, com xingamentos aos chavistas que estavam de vermelho, e nas casas, como na que estou hospedado, há grande confronto, com palavras de ordem e músicas, e com “panelaços” e com gente rasgando faixa e cartazes, ou seja, o clima que Capriles queria criar de fato teve.

Mas agora à noite, depois dos chamados do CNE e do Exército, Maduro que vinha pedindo insistentemente pela paz, convocou os chavistas para as ruas e defender o processo revolucionário. Haverá atos públicos todos os dias, pelo menos até sexta-feira, quando é a posse de Maduro na Assembleia Nacional, quando terá um grande ato público. Vamos ver como as coisas vão até lá.

Por ora, hoje houve, como disse acima, além da manifestação dos oposicionistas, uma concentração dos chavistas em frente ao Conselho Nacional Eleitoral, pois esse entregaria a ata oficial do resultado eleitoral, onde declara Nicolás Maduro como presidente eleito.

Estive lá, acompanhando as movimentações, conversando com as pessoas, junto com os camaradas da seção venezuelana da Corrente Marxista Internacional. Vejam as fotos no álbum.

Amanhã (16/04) acompanharei o movimento nas ruas, e faço um novo relato à noite.

Termino transmitindo o sentimento mais geral de Caracas, que, primeiro, o objetivo é defender a eleição de Maduro contra os golpistas. Agora, essa tensão poderá durar dias, meses, anos... teremos que ver até quando a oposição sustentará essa tática de enfrentamento.

A princípio, nos parece ser muito mais uma forma de intimidar e deslegitimar a vitória de Maduro, fazendo-o sangrar e buscando se preparar para fazer um referendo revogatório em 3 anos. De acordo com a Constituição daqui, no meio do mandato, a maioria simples da Assembleia pode pedir um referendo do mandato. Hoje a oposição tem 40% da assembleia. Mas ela pode crescer nas próximas eleições legislativas. Mas, mais do que isso, pressionará Maduro. Chavez, em agosto de 2004, depois do golpe de 2002, ele mesmo pediu um referendo revogatório e saiu fortalecido com quase 60% dos votos! Maduro poderá fazer isso para se legitimar, e ganhar mais votos do que os 50,66% que teve agora.

No entanto, para isso, terá que aprofundar o processo revolucionário, com as expropriações das grandes empresas e dos bancos. É a sustentação da burguesia, que se utiliza desse controle para sabotar a economia venezuelana. Constatado isso por Maduro, por Jorge Rodriguez (chefe da campanha), como disseram ontem à noite, eles sabem, portanto, o que fazer.

Junto com os trabalhadores e jovens, assim cobraremos, para construir o socialismo, especialmente diante de um contexto de crise do capitalismo, onde se não fizer isso, terá que atacar os trabalhadores, atacar os direitos e serviços básicos, e esses, corretamente, se voltarão contra Maduro.

Nenhum comentário: